Enviada em: 29/09/2017

Herança rodoviarista    Na década de 1950, o governo de JK lançou o plano de metas, cujo slogan era "crescer 50 anos em 5". Entre tais metas, estava o incentivo à indústria automobilística, com o intuito de popularizar o automóvel. Nos governos seguintes, essa política rodoviarista continuou, o que gerou grande acúmulo de investimentos nesse setor, em detrimento ao transporte ferroviário, ao público e ao sustentável. Essa postura governamental causou um déficit na mobilidade urbana, que hoje enfrenta grandes desafios.   Hodiernamente, principalmente nas grandes cidades brasileiras, o trânsito se configura como uma macrocefalia urbana. Isso ocorre devido, principalmente, à falta de investimentos em transportes alternativos ao automobilístico individual, como o público e o de bicicleta. A falta de estrutura, a insegurança e os altos preços desses fazem com que as pessoas optem por se locomover de carro, o que, além de tornar o trânsito caótico e estressante, prejudica, de maneira grave, o meio ambiente e a saúde da população, devido à imensa quantidade de gases poluentes emitidos.   Países como a Rússia e os EUA, que têm dimensões continentais, assim como o Brasil, utilizam como principal modal de transporte o ferroviário, sem deixar de realizar conexões intermodais. No entanto, a matriz de transporte brasileira é composta majoritariamente pelo modal rodoviário, com pouquíssimas integrações entre os demais modais. Ela é resultado direto da herança histórica da política em subtilizar os grandes potencias ferroviários e hidroviários - o território brasileiro, além de muito extenso, possui o maior conjunto de bacias hidrográficas do mundo - que o Brasil tem. Essa composição causa grandes impactos negativos na mobilidade urbana, pois aumenta a circulação de veículos pesados nas grandes cidades, os quais disputam espaço em um tráfego já saturado.   Percebe-se, portanto, que para a mobilidade urbana deixar de ser um problema, deve-se adotar medidas que reduzam a circulação de veículos nas vias. O governo deve, então, abandonar a herança rodoviarista, e passar a investir nas ferrovias e hidrovias para o transporte de cargas, tornando os modais eficientes e integrados, de modo a diminuir a circulação de caminhões. Com essa mudança, a competitividade logística brasileira vai aumentar, os gastos irão diminuir, e a arrecadação de verba crescerá. Utilizando esse dinheiro em caixa, o poder público, baseando-se em cidades referências como Curitiba e Londres, deve melhorar as condições dos transportes público e sustentável, tornando-os mais seguros, eficientes e baratos, e, assim, estes ganharão cada vez mais usuários, diminuindo, gradativamente, a quantidade de veículos circulando, e, concomitantemente, melhorando o meio ambiente e a saúde populacional.