Enviada em: 19/04/2017

Modernidade líquida     Ao longo do processo de formação do Estado brasileiro, do século XVI ao XXI, heranças do período colonial se consolidaram e permanecem forte. A escravidão, vigente durante quase três séculos, marginalizou um significativo contingente populacional, tendo suas sequelas mais marcantes na profunda desigualdade socioeconômica atual. Com isso, surge a problemática do trabalho escravo no Brasil que permanece intrinsecamente ligada à realidade do país, seja pela ineficiência de leis, seja pelos efeitos da potencialização constante do capitalismo.     É indubitável que a questão constitucional e sua aplicação estão entre as causas do problema. De acordo com Aristóteles, a política deve ser utilizada de modo que, por meio da justiça, o equilíbrio seja alcançado. De maneira análoga, é possível perceber que a existência do trabalho escravo até os dias de hoje rompe essa harmonia, haja vista que, embora a Constituição garanta que nenhum ser humano deve ser submetido a tratamentos desumanos ou degradantes, indivíduos em situação de pobreza extrema se submetem a cárceres privados, jornadas de trabalho exaustivas e/ou salários insuficientes tanto pelo desespero da fome, como por não possuir outra expectativa da vida.      Outrossim, destaca-se a sociedade de consumo em massa como impulsionadora da perpetuação do trabalho escravo. Segundo Zygmunt Bauman, a modernidade sólida está cedendo espaço a uma época de volatilidade, de consumo e de artificialidade. A consolidação da lógica neoliberal trouxe consigo a obsolescência programada e a necessidade do aumento de produtividade, o que traz á tona resquícios do modelo fordista na forma da terceirização. Logo, quanto maior o estímulo ao consumo, maior a exploração da mão de obra, para que haja a ampliação do resultado da produção.       Torna-se perceptível, por conseguinte, que a persistência do trabalho escravo na atualidade é fruto do ainda fraco cumprimento de leis e das resultantes do capitalismo como intenso fato social. A fim de modificar tal cenário, cabe ao Governo Federal o investimento e aprimoramento de programas assistenciais de qualidade, com o objetivo de fornecer o básico para a sobrevivência, o que dá a oportunidade dos indivíduos não se sujeitarem a qualquer tipo de emprego. Ademais, a educação possui um papel primordial na formação para o mercado de trabalho, sendo assim é necessário a ampliação dos cursos profissionalizantes, principalmente em zonas ruralizadas. Dessa forma, os danos causados por essa modernidade líquida poderão ser atenuados.