Enviada em: 25/04/2017

Brás Cubas, o defunto-autor de Machado de Assis, diz em suas "Memórias Póstumas" que não teve filhos e não transmitiu a nenhuma criatura o legado da nossa miséria. Talvez, hoje, ele percebesse acertada sua decisão, já que viver em um país no qual não há democratização do acesso à cultura é, no mínimo, deprimente. Por isso, é necessário superar alguns dos desafios que impedem a democratização desse direito. Ainda que a Constituição Brasileira defenda o direito de todos os cidadãos ao acesso à cultura, na realidade, não funciona dessa maneira. Uma causa de tal fato é a questão social e financeira, pois é perceptível que os grandes cinemas e museus se encontram nas metrópoles e são frequentados pelos cidadãos de maior poder aquisitivo. Além disso, o hábito da leitura também é uma evidência do desigual acesso à cultura no país, uma vez que, segundo a pesquisa Retratos da Leitura, 30% dos brasileiros nunca adquiriram um livro devido ao alto seu preço no mercado. Em virtude disso, conclui-se, nos indivíduos, a falta de interesse pelo conhecimento cultural. Esse desinteresse teve início no período escolar devido aos estímulos insuficientes dados às crianças que hoje, juntamente com a dificuldade para desfrutar dos meios culturais, formam uma sociedade pouco crítica. O filósofo Descartes já dizia que só quando pensamos, é que existimos de fato e, nesse caso, se não há o conhecimento cultural que conduz o pensamento analítico dos indivíduos, não há cidadãos engajados social e politicamente. Embora desanimadora, essa situação é mutável. Deve-se, portanto, começar a luta contra tais obstáculos no acesso à cultura como direito de todos os indivíduos. Por isso, em primeiro lugar, o Ministério da Cultura em parceria com as iniciativas privadas, devem criar formas para as classes de baixa renda frequentarem os ambientes culturais e comprarem livros, uma opção para isso é a criação de uma carteira de descontos especiais conforme a renda comprovada. As escolas, por fim, podem estimular os jovens por meio de palestras e criação de um horário, na grade curricular, para a leitura e debate em sala de aula para assim, evidenciar a importância do conhecimento cultural. Assim, inicia-se um legado de indivíduos cultos e engajados de que Brás Cubas pudesse se orgulhar.