Enviada em: 05/10/2019

O filme italiano "A vida é bela", além de todo o contexto histórico do fascismo, evidencia a cumplicidade conjugal dos pais do pequeno Giosué, que resultou no esforço comum deles para superar os sofrimentos de um campo de concentração e manter a unidade familiar. Contudo, na contemporaneidade, especificamente sob a iminência de separação conjugal, a alienação parental, caracterizada pela manipulação da prole em detrimento, ao menos, de um de seus genitores, revela-se como um problema, sobretudo, em razão de seus riscos, devendo, portanto, ser colocada em relevo e combatida, a fim de não lesar a formação da personalidade humana desde tenra idade.    Primeiramente, a mulher, desde a amamentação primeva, estabelece com o bebê um vínculo perene e íntimo, ao ponto de que, segundo Lacan, a mãe obtém, nesse ato, segurança afetiva e psicológica suficiente para cuidar de seu filho e formar um indivíduo confiante e autossuficiente com o passar dos anos. Por outro lado, sabe-se ainda, que os pais são a primeira referência de seus filhos e a influência deles sobre a descendência é capaz de imprimir-se, até mesmo, em decisões de longo prazo. Sobre isso, o jornalista Paul Hepburn, em seu livro "O novo papel do pai", afirma que garotas cujo  desenvolvimento foi estreitamente acompanhado pelo genitor masculino, via de regra, atingem maior grau de escolaridade, evitando gravidez na adolescência e envolvimento com drogas. Logo, observa-se que a alienação parental  pode lesar profundamente a criança, pois, afeta relações de forte impacto e profundidade na vida psicoafetiva e social dela, também podendo prejudicá-la em fases subsequentes.   Ademais, conforme o IBGE, nos anos de 2016 e 2017, um a cada três casamentos terminaram em divórcio, sendo que, os processos judiciais de guarda compartilhada aumentaram 13,4% em 3 anos. Desse modo, nota-se que a preocupação com o menor também aumentou. Somado a isso, em âmbito jurídico, a lei 13.431/2017 prevê punição ao autor de alienação parental, coibindo, assim, a manipulação infantil com interesse de prejudicar as partes interessadas no litígio. Entretanto, somente na Bahia, de acordo com o TJ-BA, em 2017, de 13.827 separações apenas 3,14% tiveram acordo de guarda compartilhada, privando a convivência  total entre pais e filhos e o gozo dos benefícios dela.    Por conseguinte, tendo em vista que o psiquismo  da progênie pode ser lesado pela negligência do convívio com um de seus progenitores, impende ao Ministério da Saúde criar projetos que, junto ao pré-natal, instrua pais e mães acerca dos perigos da alienação de sua pessoa , destacando, especialmente, o papel e a influência deles em relação à criança, desde a vida intrauterina. Tais projetos devem contar com recursos públicos, psicólogos e assistentes sociais a fim de auxiliar no desenvolvimento integral da família. Dessarte, seja o Brasil uma pátria "mãe gentil", diferente da Itália, outrora fascista, de Giosué.