Enviada em: 08/10/2018

Ter e não ser: esta é a questão. A famosa frase de Shakespeare poderia ser reescrita dessa forma na atualidade. Essa tendência exibicionista existe desde o Egito Antigo, no qual o prestígio dos faraós era mostrado por meio de suas roupas e palácios. No entanto, com o advento da mídia e das redes sociais essa característica tornou-se mais latente. Assim, a maioria dos indivíduos sente a necessidade de parecer bem sucedido, gerando um ciclo de consumismo e distúrbios psicossociais.     Em primeiro lugar, as novelas e programas televisivos pregam como noção de sucesso a capacidade de ter objetos e mostra-los. Conforme o sociólogo Émile Durkheim, “o fato social é a maneira coletiva de agir e de pensar”. Nesse contexto, é comum que muitas pessoas, principalmente os jovens, tomem decisões de consumo em função do que os outros vão achar e também das curtidas que irão ganhar na internet, expondo o que comem, os lugares que visitam e as marcas que vestem. Essa realidade é retratada na série do Netflix “Black Mirror”, que mostra em um dos episódios uma personagem postando seu café de aparência perfeita, mas que é descartado em seguida, devido ao sabor desagradável. Nesse ínterim, a busca por ter e aparecer é priorizada, em detrimento de viver o presente e ser na realidade.              Por conseguinte, o hedonismo e a superficialidade geram a necessidade de comprar cada vez mais, provocando também a insatisfação daqueles que, por restrições econômicas, não podem acompanhar esse ritmo frenético. De acordo com o filósofo Karl Marx, “a desvalorização do mundo humano aumenta em proporção direta com a valorização do mundo das coisas”. Assim, muitos indivíduos ficam endividados para se sentirem parte de determinado grupo, tentando preencher um vazio existencial com bens materiais. Essa sensação contemporânea de precisar ter coisas para ser feliz só beneficia aos interesses capitalistas, por isso é necessário instigar a autocrítica juvenil.        Deve-se, portanto, adotar formas de romper com o excesso exibicionista do século XXI. Cabe ao Ministério da Educação, por meio das secretarias municipais, inserir nos currículos escolares, palestras com psicólogos sobre as diferenças entre o que é mostrado na televisão e a vida real, reforçando a importância de não se iludir com as propagandas empresariais e pessoais, para que as crianças e adolescentes cresçam com a consciência de que ter conteúdo e pensar nas consequências de seus atos deve sobrepor o consumo desenfreado. Já a mídia engajada, por meio dos influenciadores digitais, devem fazer postagens mais realistas e voltadas aos conteúdos sobre os limites do consumo e da ostentação, a fim de ajudar os seguidores a ir contra os fatos sociais impostos de ter em prejuízo de ser.