Enviada em: 11/07/2017

No seriado "Chaves", o menino Kiko deleita-se ao esbanjar os melhores brinquedos na vila em que vive. Tão logo o personagem vê os demais com um brinquedo simples, corre até sua casa para pegar outro mais sofisticado. Na sociedade brasileira atual, o comportamento de possuir objetos de marca se faz, cada vez mais, presente. Assim, a ostentação, marcada, principalmente, pelo caráter expositivo do "ter", estabelece a alienação dos valores individuais.        É fato: nossa sociedade mostra-se dependente de prazeres materiais. Desse modo, já não se compra uma roupa apenas para vesti-la, é preciso que ela traga um sentimento de vitória, seja representado por uma etiqueta de marca famosa, um carro potente ou uma corrente de ouro, bem como se reproduz no atual discurso do Funk Ostentação. O filósofo Erich Fromm, no século XX, previu uma civilização obcecada por bens. No entanto, talvez jamais tivesse imaginado que as mídias sociais impulsionariam esse processo. No instagram, por exemplo, tornou-se comum a frase "mais uma conquista" acompanhada da foto do carro novo, dando a entender que o usuário necessita, continuamente, adquirir algo para se sentir satisfeito.        Com isso, fica estabelecido um perigoso grau de interdependência social, pois é preciso agradar o gosto coletivo como forma de inclusão. Nesse sentido, as pessoas passam a comprar, até mesmo, produtos que estão além de suas condições econômicas com intuito de mostrar ao público. Segundo uma pesquisa da Universidade de São Paulo, 97% dos jovens da periferia, se tivessem, gastariam 500 reais em roupas de grife, ou seja, mesmo em condições precárias de saúde e educação, eles pensam, primeiramente, na ostentação.       Portanto, é importante o papel da família para controlar esse problema. Os pais precisam participar ativamente da vida dos filhos, ensinando-lhes desde pequenos como controlar o dinheiro para consumirem de maneira consciente. As escolas também são indispensáveis na construção da cidadania. Elas podem atuar por meio de palestras, a fim de ativar o censo crítico dos alunos, fornecendo-lhes conteúdos para que eles possam debater antes de aceitarem a imposição de valores supérfluos. Dessa maneira, podemos estabelecer que "ter" não equivale a "ser", afinal, no seriado, o garoto Chaves sempre pareceu muito mais feliz e sociável do que o Kiko.