Enviada em: 06/08/2018

No poema "pronominais", de Oswald de Andrade, o verso "deixa disso camarada/ Me dá um cigarro" exemplifica exatamente o ideal proposto pelo Modernismo: a valorização da linguagem coloquial. No entanto, quando se analisa o processo de variação linguística no Brasil, percebe-se que diferentemente da visão dos artistas modernistas, ainda há um preconceito linguístico. Desse modo, verifica-se que o problema persiste, seja pela manutenção de métodos de ensino arcáicos, seja pela esteriotipização da lingua promovida pela mídia.  É importante notar, a princípio, que a proposta obsoleta de ensino da lingua nativa é um fator preponderante para a manutenção do problema. Assim, apesar do que dito pelo filósofo e pedagogo Paulo Freire, que crê numa "cultura de paz" nas escolas, ou seja, no ensino baseado na convivência com a diversidade, as instituições de ensino promovem, de certa forma, o oposto. Dessa forma, desde a base de aprendizagem, o aluno recebe e capta a informação de que a única versão correta do português é a exposta nos livros didáticos: a norma-culta. Por conseguinte, a diversidade da fala que foge ao parâmetro é vista como abominável, o que perpetua casos de preconceitos linguísticos.  Ademais, é necessário notar, ainda, que a mídia também favorece o panorama de desrespeito à variante linguística. A esse respeito, o filósofo Pierre Bourdieu, em sua teoria do "Habitus", acredita que a sociedade incorpora valores impostos a sua realidade, naturalizando-os e os reproduzindo. Dessa maneira, a televisão, ao associar a fala coloquial ou a nordestina a um personagem pobre e sem inteligência, é responsável por impôr valores de carácter preconceituosos que serão absorvidos pelos cidadãos médios. A exemplo disso, nota-se o caso em que um médico de São Paulo fez postagens ironizando o forma supostamente errada de falar de um paciente que acabara de atender.  Torna-se evidente, portanto, que o preconceito à variação linguística está intrísecamente ligado ao Brasil. Sob essa perspectiva, o Ministério da Educação, em parceria com as escolas, deverão promover um conhecimento mais amplo acerca das multufacetas da lingua a partir da inserção do ensino de variação linguística no currículo escolar. Similarmente, a Mídia deverá, através de novelas engajadas, ressignificar os valores anteriormente passados pela mesma através da criação de personagens que retratem as variantes da língua bem como desconstrua tal preconceito enraizado. Somente assim, a longo prazo, o idela modernista de valorização das várias formas de falar seja compartilhado por todo país.