Enviada em: 29/07/2018

A vinda da Família Real para o Brasil, no século XIX, foi um fato determinante para associar o português europeu falado pela monarquia como superior em relação ao brasileiro. Desde então, popularizou-se a ideia de que o modo de falar das classes sociais mais favorecidas é melhor e mais correto e isso contribuiu para o atual cenário de preconceito linguístico no país. Dessa forma, é necessário uma articulação entre sociedade e Estado para combater esse problema, pois a didática utilizada nas escolas e a estrutura hierarquizada da sociedade estão relacionadas com a problemática.       A princípio, destaca-se que é comum um professor definir o modo correto ou errado de falar ao corrigir a oralidade de um aluno. Marcos Bagno, linguista e escritor brasileiro, afirma em sua obra " Preconceito Linguístico", que a variação é uma característica de todas as línguas e o que é falado não pode ser normatizado pela gramática. Nesse viés, quando um docente separa a conversação em duas vertentes — uma boa e uma ruim — ele está enaltecendo uma em detrimento da outra, ainda que não seja possível realizar essa caracterização cientificamente. Portanto, é evidente que o modelo de ensino utilizado nas escolas gera a ideia de que o modo de falar em desacordo com a norma culta é pior e não merece prestígio.       Ademais, ressalta-se que em uma nação com grande nível de desigualdade social a língua é um instrumento utilizado pelas classes sociais mais favorecidas, que optam por vocabulários mais rebuscados, para gerar mais segregação. Isso, consoante com o pensamento dos sofistas do Período Clássico de que a maneira como se fala define o tipo de cidadão, ocorre pois a gramática normativa deveria ser subordinada à língua, porém com a inversão de posições passa a ser um instrumento de poder e controle. Desse modo, a segregação linguística coopera para manter a característica quase estamental da sociedade brasileira.       Urge, portanto, que ações sejam realizadas com o fito de combater o preconceito linguístico. Primeiramente, cabe ao Ministério da Educação, em parceria com as instituições de ensino, trabalhar a norma culta sem subjugar as variações da oralidade, por meio de um programa de treinamento dos profissionais da educação para que eles diferenciem a escrita da fala e não estabeleçam uma relação de subordinação entre as duas modalidades. Dessa maneira o objetivo é fazer com que o método de ensino não contribua para agravar a problemática. Concomitantemente, os veículos comunicação em massa, devem desconstruir a ideia de prestígio social relacionada à utilização de vocabulários refinados, por intermédio de uma exposição mais ampla de estudos  que desmistifiquem esse conceito. Assim, será possível fazer com que a desigualdade social não intensifique o preconceito linguístico.