Enviada em: 20/08/2018

O Modernismo no Brasil, ainda no século XX, defendeu a liberdade no uso da língua e o rompimento com os padrões formais. Decorridas décadas desde esse marco, na contemporaneidade, a linguagem ainda movimenta diversos debates, apesar do preconceito latente no país acerca das distintas manifestações linguísticas. Nesse sentido, fatores de ordem educacional, bem como econômica, caracterizam os dilemas da língua em território brasileiro.    É importante pontuar, de início, a negligência escolar quanto à diversidade de dialetos no Brasil. À guisa do pensamento de Kant, o ser humano é tudo aquilo que a educação faz dele, sendo as escolas fundamentais nesse processo. Entretanto, grande parte do meio estudantil brasileiro promove uma falha formação social aos estudantes ao ignorar, dentro das salas de aula, o debate acerca da língua e suas variedades. Nesse sentido, muitas escolas impõem aos alunos a gramática normativa e anulam as singularidades culturais e linguísticas de cada jovem. Essa realidade é amplamente abordada na história em quadrinhos do Chico Bento, em que o personagem é constantemente reprimido no meio escolar pelo seu jeito de falar, sem uma conscientização acerca das diferentes formas da língua.    Outrossim, tem-se a influência dos valores econômicos na prática do preconceito linguístico. Desde o início do período republicano no Brasil, a educação esteve restrita às camadas mais ricas da sociedade e, assim, a fala erudita foi, historicamente, construída como a mais correta e aceitável. Nesse sentido, a linguagem torna-se um mecanismo de distinção e hierarquização social, com a depreciação do modo de falar dos mais pobres. Esse fenômeno é ratificado pelo recente caso de preconceito linguístico, em que um médico debochou na internet sobre o "jeito errado" com que seu paciente, de origem mais humilde, se expressava, evidenciando um menosprezo acerca do outro a partir da linguagem.    É notória, portanto, a relevância de fatores educacionais e econômicos na problemática supracitada. Nesse viés, cabe às escolas, em consonância com a mídia, desenvolver projetos acerca da diversidade de expressão da língua. A ideia da medida é, a partir de palestras e debates nas salas de aula, além de propagandas educativas e telenovelas que abordem o assunto, consolidar na população brasileira o respeito e a tolerância às diferentes manifestações linguísticas e proporcionar uma educação mais cidadã nas salas de aula brasileiras. Ademais, é dever do Estado, por intermédio dos órgãos responsáveis, coibir o preconceito linguístico no país. Essa intervenção deve contar com o estabelecimento de multas e medidas socioeducativas àqueles que tiverem um comportamento preconceituoso a fim de minimizar essa prática e garantir uma sociedade mais harmônica no Brasil.