Enviada em: 22/08/2018

“sim sinhô, dotô”      No romance “Vidas Secas”, Graciliano Ramos narra a história de Fabiano, um homem do sertão nordestino que, por não dominar os padrões linguísticos, é humilhado e subjugado por outros personagens. Tal situação caracteriza o preconceito linguístico, conjuntura que envolve fatores educacionais e sociológicos, e, fora da literatura, é uma problemática muito presente na sociedade brasileira. Nesse sentido, algo deve ser feito para alterar essa situação, uma vez que o preconceito representa um mecanismo de exclusão e, portanto, um grave problema social.       Em primeira análise, deve-se pontuar que a formação e a modificação de uma língua são processos orgânicos, ocorrendo no cotidiano das pessoas. Dessa forma, a normatização de um idioma é, necessariamente, excludente, ao passo que representa apenas um recorte da língua falada de um povo. Nesse diapasão, valorizar uma variação específica da fala em detrimento de outras, incorre em um julgamento depreciativo e, muitas vezes, humilhante para com o interlocutor, configurando uma latente forma de preconceito.        Ademais, analisando o que o sociólogo francês Pierre Bourdieu denominou “língua legítima”, muitas vezes a fala baseada na norma culta é utilizada como mecanismo de controle das classes dominadas, que, apesar de conhecerem, não a reconhecem como tal. Essa assertiva é exemplificada no enredo de Graciliano, quando o personagem é preso pelo “Soldado Amarelo”, que faz uso de uma linguagem rebuscada para impor sua visão discriminatória. Como consequência, de maneira estigmatizada, o comportamento linguístico passa a ser visto como um indicador claro da estratificação social, pautado em preconceitos e falsos padrões de certo e errado.     Evidencia-se, portanto, o reconhecimento de uma conjuntura que se utiliza da língua como instrumento de segregação. Assim, urge que o Estado, por meio do Ministério da Educação, promova a realização de oficinas interdisciplinares, nas escolas e universidades, tendo como temática a pluralidade linguística como manifestação natural de um povo. Além disso, é imprescindível a realização de campanhas em mídias televisivas e redes sociais, com o fito de difundir a língua falada em suas diversas variações. Dessa maneira, a narrativa de Graciliano passará a ter uma conotação puramente fictícia, e o preconceito linguístico tornar-se-á uma realidade de outrora.