“Assim procedo. Minha pena/ segue esta norma/ por te servir, Deusa serena/ Serena forma.” A poesia de Olavo Bilac evidencia a grande importância que foi dada à norma culta, a ponto de “endeusa-la”, durante o Parnasianismo, escola literária a qual esse escritor pertenceu. Atualmente, essa grande relevância ainda é dada à normatividade gramatical que, apesar de necessária em questões de padronização, também torna real o preconceito linguístico aos cidadãos que não dominam a forma tida como correta de se falar e escrever, marginalizando-os da sociedade. Segundo Marcos Bagno, professor e linguista, o conhecimento da gramática normativa tem sido usado como uma ferramenta de distinção e de dominação pela população culta. Sob essa perspectiva, a língua torna-se um instrumento de poder porque que a elite letrada entende que somente ela detém o direito à palavra. Isso contribui para alavancar os números da desigualdade uma vez que as classes dominadas, majoritariamente, não têm acesso a esses padrões normativos, fazendo com que esses falantes se sintam intimidados com a possibilidade de cometer um erro de Português. Ademais, é preciso considerar, ainda, que o Brasil é um país com dimensões continentais e com uma grande pluralidade cultural, refletindo-se nas diversas variações linguísticas que existem nas diferentes regiões. Nesse contexto, as escolas se preocupam muito com ensino do Português culto, mas pouco se dispõem a apresentar aos seus alunos as variedades linguísticas brasileiras e a explicar que todas elas contribuem para a formação cultural do país. Desse modo, crianças crescem acreditando que existe apenas um modo de escrever e falar e que todos os demais devem se refutados. Portanto, é preciso que o Ministério da Educação crie um programa para ser desenvolvido nas comunidades pobres o qual promova aulas de Português à população desse local, objetivando dar oportunidades a esse grupo de compreender a língua culta e, assim, poderem se expressar sem o receio de cometer um erro gramatical e serem humilhados por isso, contribuindo para a inserção desse grupo à sociedade letrada, além de proporcionar maiores chances de conquistas profissionais. Por fim, as escolas devem promover palestras as quais ensinem às crianças que o Português culto é importante em diversos aspectos, mas que também o Brasil é riquíssimo em outras variedades linguísticas as quais devem ser valorizadas e respeitadas, tal ação objetivará a formação de futuros adultos tolerantes às diferenças. Dessa forma, o culto exagerado à forma culta ficará presente apenas nos versos parnasianos.