O gramático, Evanildo Bechara, acredita que "um falante deve ser poliglota em sua própria língua", ou seja, não é necessário desvalorizar a norma-padrão, mas sim aceitar todas as variações características da linguagem. No entanto, o que se vê no Brasil, é o preconceito linguístico cada vez mais presente na sociedade. Em um cenário de supervalorização da gramática normativa e da fala como um dos meios de segregação social torna-se essencial debater essa problemática. É preciso considerar, antes de tudo, que a supervalorização da norma-padrão em detrimento das demais variantes contribui para que o preconceito linguístico se instaure. A sociedade acredita que a língua é equivalente à gramática normativa, sendo assim, qualquer outra manifestação linguística diferente da considerada "padrão", não é bem vista. No entanto, o Brasil sempre foi considerado uma nação plural, por conseguinte o português brasileiro é constituído pela diversidade, o que ficou conhecido como sincretismo linguístico. Por essa razão, é contraditório que exista esse tipo de preconceito no país. Além disso, essa discriminação por causa do modo de falar origina uma segregação social. Consoante à concepção Bourdieusiana, pode-se afirmar que as escolas, de uma maneira geral, funcionam como espaço de reprodução das desigualdades sociais, visto que consideram somente as regras padrões da Língua Portuguesa como corretas. De fato, a língua está intimamente ligada à organização e aos valores do corpo social, o que faz com que falantes da norma culta sejam aqueles que possuem maior grau de escolaridade e poder aquisitivo. Destarte, essa marginalização da fala, vai de encontro à verdadeira função do idioma: estabelecer uma comunicação entre emissor e receptor. Portanto, fica claro, que para torna-se poliglota em sua própria língua, faz-se necessário medidas que minimizem os efeitos do preconceito linguístico no Brasil. A escola e o corpo docente devem considerar a realidade do corpo discente e por meio da realização de práticas e procedimentos que valorizem a vivência e a realidade dos alunos, a fim de que eles se sintam valorizados, tanto como indivíduos quanto como falantes da língua. Ademais, o ensino da norma-padrão deve ser feito sem que haja a desvalorização da variedade linguística do aluno, que não deve ser jamais excluída ou rotulada como inferior. Dessa forma, haveria o reconhecimento da pluralidade canarinha e estabelecer, de fato, uma cultura inclusiva.