Enviada em: 26/08/2017

Os diversos brasis da Língua Portuguesa         A chegada dos imigrantes no século XX, o extenso território do país e a pluralidade de etnias que compõem o Brasil foram os principais motivos geradores das variações linguísticas existentes na nação. Nesse sentido, contudo, observa-se que essa variedade não tem sido acompanhada de forma positiva pela sociedade, cujo preconceito linguístico recrudesce devido, sobretudo, à falta de direcionamento escolar acerca dessa temática e à ausência de uma legislação específica que condene essa prática.      As variações linguísticas comumente mais sujeitas à aversão são aquelas utilizadas pela parcela menos favorecida econômica e socialmente da sociedade, em que as crianças não possuem acesso adequado à educação e não aprendem a falar de forma meândrica e gramaticalmente correta. Dessa forma, entre a população mais rica, forma-se uma linha tênue entre o preconceito linguístico e social, visto que, desde a escola, os indivíduos aprendem que a sua forma de falar é a única correta e que deve ser utilizada, desvalorizando, assim, os falares menos prestigiados. Como prova disso, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA), cerca de 40% dos brasileiros já sofreram preconceito devido a sua forma de falar.      Além disso, outro fator motivador desse preconceito é a falta de uma legislação específica que o penalize, o que favorece ainda mais os seus praticantes, os quais, em sua maioria, são indivíduos considerados cultos e civilizados. O escritor Manuel Bandeira, por exemplo, em suas obras procurou escrever da forma como falavam os habitantes do interior nordestino, estabelecendo, dessa forma, uma aproximação entre leitor e texto; todavia, seus livros foram duramente reprimidos pela comunidade linguística da época, haja vista que a sua escrita não era gramaticalmente correta. Dessa maneira, os diferentes ‘’brasis’’ da Língua Portuguesa acabam sendo reprimidos pelos seus próprios falantes.      Nessa perspectiva, para que seja possível exaurir o preconceito linguístico existe no Brasil, mostra-se, portanto, necessária uma ação conjunta entre escola e Estado. Para tanto, cabe às instituições de ensino inserirem em sala de aula, junto ao ensino da própria Língua Portuguesa, debates acerca de como os diferentes falares são igualmente importantes e carentes de respeito, visto que contribuem do mesmo modo com o falar brasileiro. Ademais, é imprescindível que o Poder Público crie postos específicos para o recebimento de denúncias que contribuam com o trabalho policial para penalizar esse tipo de crime, diminuindo a impunidade entre os seus praticantes. Afinal, à guisa do escritor Marcos Bagno, a pluralidade cultural do Brasil não condiz com o preconceito linguístico dos brasileiros.