Enviada em: 05/09/2017

A segregação imposta pela padronização            A língua é inerente ao ser humano, já que ele é o único ser racional e, por isso, o único capaz de emitir sons, por via bucal, intencionais, para se comunicar com o outro. O Brasil, pelo fato de contar com uma ampla extensão territorial, apresenta variadas possibilidades do uso da língua portuguesa, para que as relações interpessoais possam ser realizadas. Entretanto, a norma culta da língua, uma dessas possibilidades, infelizmente, protagoniza o preconceito linguístico que segrega os brasileiros impossibilitados ao acesso à educação.        Diante disso, ressalta-se, desde longa data, a forma como a língua é utilizada pelos poderes oficiais como instrumento de controle social. Elucida-se esse domínio público a partir da escolha de uma, dentre várias línguas, como a oficial de um país. Ademais, nos locais de ensino, a codificação da língua somente pela gramática e pelo dicionário pressupõe uma unidade linguística comum a todos os brasileiros, distanciando-se, assim, das formas usuais faladas no dia a dia. Outro grande perpetuador desse tipo de discriminação é a mídia, pois, ao associar-se às classes dominantes, preserva o uso da forma padrão em detrimento da realidade vivida nas diversas regiões do Brasil.       Nesse sentido, o preconceito, além de linguístico, é, também, social. O Estado, ao estabelecer um idioma como oficial implica um processo de exclusão, no qual as demais variedades passam a ser desprezadas. Para mais, no ambiente escolar, a imposição de uma norma padrão regida pela gramática reprime e ridiculariza todo e qualquer ser manifestante de um dialeto fora desse modelo proposto. Não menos notável, a mídia, ao defender o uso do português puro, fomenta o preconceito com as variedades dialéticas populares.        Torna-se notório, portanto, a importância da escola frente à formação do conhecimento do aluno quanto à sua língua e suas variantes. Assim, nas salas de aula, cabe ao professor impor o conhecimento da norma culta seguida de suas variações. Dessa forma, o discente torna-se-á um conhecedor amplo de toda a língua. Para mais, cabe à mídia, com seu papel informativo, exercer a função de guia entre as variedades linguísticas presentes no país. Para isso, as emissoras de TV optarão por programas educativos que abordem diversos aspectos da língua e mostrem a importância das variações regionais para a construção da identidade cultural brasileira. Somente assim, ter-se-á um país onde o respeito entre a norma padrão e a usual será mútuo.