Enviada em: 20/10/2017

O Modernismo no Brasil, ainda no século XX, defendeu a liberdade no uso da língua e o rompimento com os padrões formais. Decorridas décadas desde esse fenômeno histórico, a diversidade no modo de falar dos brasileiros movimenta intensos debates, orientados, muitas vezes, pela intolerância quanto às manifestações linguísticas. Fatores de ordem educacional, bem como econômica, caracterizam o dilema da linguagem no Brasil hodierno.    É importante pontuar, de início, a negligência acadêmica quanto ao preconceito linguístico. À guisa de Kant, o ser humano é tudo aquilo que a educação faz dele. As escolas brasileiras, entretanto, falham nesse processo de formação social ao imporem a gramática normativa aos seus estudantes, ignorando suas particularidades. Essa realidade é observada na história em quadrinhos do personagem Chico Bento, que é constantemente reprimido na sala de aula devido ao seu modo de falar. Torna-se essencial a realização de projetos voltados à diversidade da língua, respeitando as manifestações linguísticas dos estudantes.    Outrossim, tem-se a influência de valores econômicos na associação da fala erudita como o meio correto de se manifestar. Desde o período imperial, a educação esteve restrita aos grupos de maior poder aquisitivo, sendo que, hoje em dia, essa realidade se repete com a degradação das escolas públicas no país. Assim, as expressões linguísticas que seguem a gramática normativa são exaltadas em detrimento das demais. Tal fator foi amplamente percebido no episódio em que um médico debochou na internet do seu paciente pelo "jeito errado" com que ele falava, próprio das classes mais baixas.    É notória, portanto, a relevância de fatores educacionais e econômicos na problemática supracitada. Nesse viés, as escolas, em consonância com ONGs da área, devem ressaltar a importância das variedades linguísticas para a cultura do país. A ideia da medida é, por meio de palestras e debates nas salas de aula, além de campanhas nas ruas, consolidar a tolerância às diversidades da língua entre os brasileiros. Ademais, cabe a mídia, enquanto difusora de novos comportamentos e opiniões, valorizar igualmente as formas de se expressar dos brasileiros. Essa intervenção deve contar com telenovelas e propagandas educativas que abordem o assunto com o intuito de desconstruir as noções de uma linguagem mais correta que as demais. Finalmente, o Governo, por intermédio dos órgãos responsáveis, deve promover punições àqueles que praticarem o preconceito linguístico. Tal projeto pode contar com a aplicação de multas e medidas socioeducativas aos infratores a fim de minimizar esse fenômeno na sociedade brasileira.