Enviada em: 04/10/2018

Em seu poema intitulado "Pronominais", Oswald de Andrade, importante nome do Modernismo, expõe a diversidade do uso da língua em função da situação comunicativa, fazendo referência à existência, dentro da Língua Portuguesa, de maneiras distintas de expressar uma mesma ideia, sem classificá-las necessariamente como certa ou errada. Entretanto, a ausência dessa dicotomia apresentada pelo autor ainda não é amplamente reconhecida pela sociedade brasileira, o que vem gerando uma cultura discriminatória pautada no preconceito linguístico, cuja origem deve ser criticada e cujos entes fomentadores devem ser reestruturados.     Em primeira análise, nota-se que o preconceito linguístico é oriundo da segregação social e pode ser utilizado como instrumento de demonstração de poder. Para Karl Marx, além de definirem os padrões a serem seguidos por uma sociedade, os grupos dominantes escolhem aqueles que terão acesso aos meios necessários para alcançá-los, gerando, portanto, um cenário segregacionista. Dessa maneira, o preconceito linguístico é instaurado quando a classe dominada é apontada como de menor importância ou menos qualificada por não conhecer ou não utilizar as regras da gramática normativa. Logo, o controle social dar-se-á a partir do momento que a minoria fica desprovida de usufruir dos meios que poderiam alterar sua realidade, como o acesso a educação, por exemplo.    Em contrapartida, deve-se evidenciar a situação paradoxal em que a escola se encontra perante a problemática. Ao mesmo tempo em que a instituição tem papel crucial na formação técnico-científica, crítica e cidadã do indivíduo, o autoritarismo e inflexibilidade na construção e demonstração do conhecimento corroboram a ideia de que uma informação apresentada será invalidada caso a norma culta da língua não seja utilizada. Nesse contexto, o linguista Marcos Bagno afirma que é necessário o reconhecimento pelos professores da existência de normas linguísticas diferentes, a fim de que a sala de aula não se torne um ambiente que amordace o aluno e provoque sofrimento.    Portanto, é mister que se combata a prática do preconceito linguístico no Brasil. Sendo assim, cabe ao Governo Federal, por meio do Ministério da Educação, trazer para os cursos de licenciatura e magistério o debate sobre o tema, utilizando-se de palestras com autoridades e "workshops", a fim de que se objetive a mitigação do problema já na formação dos professores. Outra importante ação desse agente está em tornar a escola um ambiente onde o aluno possa se familiarizar com as diversas variações linguísticas existentes no país e aprender sobre suas naturezas, suas adequações e inadequações, para, enfim, romper-se com o autoritarismo excessivo no ensino e apagar a linha entre o certo o errado quando se trata do uso da língua, como bem fez Oswald de Andrade.