Enviada em: 06/05/2018

"Flor do Lácio Sambódromo, Lusamérica latim em pó. O que quer, o que pode esta língua?". Os versos da canção "Língua", de Caetano Veloso, refletem quais são os papéis da língua portuguesa na sociedade brasileira. Um desses papéis está relacionado ao seu mau uso. A língua acaba sendo utilizada de forma incorreta por uma parcela da sociedade como um mecanismo de dominação e de exclusão social. Surge então a ideia do preconceito linguístico, caracterizado como uma atitude de julgamento e desrespeito em relação ao modo de falar, ao sotaque ou ao dialeto do outro. Esse problema possui raízes históricas e é um reflexo da ignorância frente às funções primordiais da língua.       O Brasil possui uma extensão territorial de dimensões continentais, sendo impossível existir em todo território uma unicidade da língua. Pelo contrário, há uma imensa diversidade de línguas - aproximadamente 180 línguas diferentes - que estão sujeitas ao contexto histórico, geográfico e sociocultural no qual os falantes estão inseridos. Assim, determinadas variedades da língua, geralmente relacionadas às elites socioeconômicas e culturais, são eleitas mais prestigiadas que outras. Desde o Período Colonial brasileiro, essa classe dominante quis manter sua posição privilegiada, através de mecanismos de distanciamento cultural com relação ao resto da população. Uma das maneiras de se fazer isso é por meio da linguagem. Se o indivíduo não se adéqua às normas padrões e cultas, ele é tido como inferior e é excluído socialmente.      Além disso, é ignorado o papel primordial da língua: a comunicação. Para o sociolinguista Marcos Bagno, em sua obra "Preconceito Linguístico", não existe uma forma "certa" ou "errada" dos usos da língua. De fato, se a principal função da língua é a comunicação, o que importa então é a transmissão da mensagem e o seu entendimento pelo receptor. Fato esse que vem sendo propagado apenas recentemente nas escolas. Sendo assim, muitos professores ainda não estão preparados para lidar com a diversidade de línguas brasileiras e acabam se apegando apenas às normas padrões e ignorando o caráter multilíngue do país.     Portanto, devido ao fato desse problema possuir um caráter histórico e cultural, o principal meio capaz de alterá-lo é através da educação. É necessário que o Ministério da Educação promova cursos de capacitação de professores, com o objetivo de torná-los aptos a lidar com a diversidade linguística aqui existente. Ademais, a Escola deve promover palestras e atividades lúdicas que envolvam os alunos e as famílias, a respeito desse tema. Desse forma, os professores estarão ajudando ao aluno desenvolver sua capacidade de expressão e reflexão, além do respeito às variedades da língua, fazendo com que esse cenário de preconceito seja alterado.