Enviada em: 31/10/2018

.  "Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, cegos que veem, cegos que vendo não veem". O excerto da obra modernista "Ensaio sobre a Cegueira" de José Saramago, critico, por meio do uso de metáforas, a alienação de uma sociedade que se torna invisual. Fora do universo literário, tal obra atemporal não foge da cegueira contemporânea na qual o tecido social brasileiro não enxerga os preconceitos enfrentados pelos homossexuais na doação de sangue. Nesse aspecto, dois fatores são relevantes: a inobservância governamental e a questão histórica.     Em primeiro plano, o descaso estatal promove subterfúgios ao quadro vigente. Destarte o iluminista Rosseau, no contexto da Revolução Francesa, afirma o papel do Estado em garantir igualdade jurídica. Contudo, a prática deturpa a teoria, embora a Constituição Federal de 1988, diga que todos são iguais perante a lei, sem distinção de origem, gênero, raça ou qualquer natureza, para os homossexuais isso não ocorre. Em virtude da incompetência do poder público em proibir a doação de sangue para o grupo LGBT, pelo equívoco preconceito de "gay ser sinônimo de HIV", apesar do Dr. Drauzio Varella ter desmitificado esse pensamento arcaico e permitir a doação desse líquido vermelho para os gays não portadores de DSTs. Dessa maneira, é inadmissível que às demandas sociais retratadas no século XVIII persistam nos dias atuais.      Outrossim, não obstante, bases intrínsecas corroboram na invisibilidade da questão. Isso decorre pela discriminação e homicídios que os homossexuais sofrem desde a Idade Média, quando o catolicismo considerava aberrações pessoas que tinham relações sexuais com o mesmo sexo. Análogo a isso, a sociedade, então, por tender a incorporar as estruturas sociais que são impostas à sua realidade, conforme defendeu o sociólogo Pierre Bourdieu, naturalizou e reproduziu o pensamento ao longo do tempo com algo passível e alheio de soluções. Desse modo, não é à toa que apenas 1% das pessoas sejam doadoras, segundo o site Aprenda a Valorizar.      Torna-se evidente, portanto, que o preconceito enfrentado pelos homossexuais na doação de sangue representa um antagonismo a ser combatido. Para tanto, é mister que o Ministério da Saúde, em parceria com o Ministério da Justiça, permita que os gays doem sangue nos centros de doações, por intermédio de uma criação de lei que permitam o compartilhamento a todos. Nessa ação, os sangues dos voluntários, que estejam em boas condições de saúdes, passarão pelo critério da OMS (Organização Mundial de Saúde) para testarem e disponibilizarem aos pacientes que estejam precisando, com a ajuda dos enfermeiros e funcionários do hospital para ajudarem levantarem essa bandeira na coleta desse líquido vermelho. Dessa forma, a cegueira dita por Saramago será combatida.