Enviada em: 20/01/2019

No ano de 2017, quando confrontado no Supremo Tribunal Federal sobre as restrições da doação de sangue por homossexuais, o então ministro da saúde do Brasil, Ricardo Barros, afirmou que processos de segurança do sangue coletado exigem estas informações, e o país, deficiente em tecnologias de processamento para uso do material hemático, necessita importar tais serviços e que os mesmos saem mais caros sem uma triagem que pergunte a orientação sexual dos possíveis doadores, pois é a recomendação de Organização Mundial de Saúde (OMS). Essa visão alicerça-se no fato de que, estatisticamente, homens que fazem sexo com outros homens tem maior proporção de doenças sexualmente transmissíveis, em especial HIV, pois seriam mais promíscuos e tem uma relação sexual de maior risco. O argumento, entretanto, é passível de constatação e desconstrução, em um país no qual a doação de sangue não supre sua necessidade.       Primeiramente, deve-se questionar o custo de desperdiçar o potencial de doação do sangue de homossexuais. Certamente, se o problema é financeiro, conforme o ministro, a falta desse material nos estoques de hospitais custam a sobrevivência de pacientes Também soma-se que o transporte gasto atualmente em situações de emergência são caros, isto é, banir este tipo de triagem preconceituosa possa ser financeiramente mais viável: gasta-se mais para padronizar o sangue, porém economiza-se com gastos de logística e, principalmente, vidas.       Também não se sustenta a visão de que gays sejam mais promíscuos e carreguem mais doenças que heterossexuais. Sem dúvidas, o grande vilão é o vírus causador da Aids. Por exemplo, se este é um argumento usado pela OMS, deveriam questionar-se como procede em lugares, como na África do Sul, onde 25% da população adulta é infectada pelo HIV e, na quase totalidade, vem de relações homem com mulher. Por outro lado, países europeus com histórico de tolerância carregam taxas inferiores a 0,3% de infecção na população geral. Impor restrição por orientação sexual é vexatório e contribui para a manutenção da segregação da população LGBT.        Assim, o governo necessita rever seus protocolos de triagem, já que tais práticas disseminam preconceito e custam vidas. O Ministério de Saúde, responsável pelo caso, precisa verificar o custo de tais restrições, se, de fato, o aumento no custo para tornar o sangue utilizável em hospitais ao aceitar sangue homossexual é pior do que a falta do mesmo. Ao mesmo tempo, se há a preocupação com o aumento de DSTs, em especial o vírus HIV, deve-se adotar estratégias para diminuir o risco, como maior utilização de medicamentos profiláticos na população vulnerável, e assim, abaixar os índices de contaminação, mitigando o preconceito, barateando custos e principalmente, salvando vidas.