Enviada em: 20/07/2019

“É preciso erguer o povo à altura da cultura e não rebaixar a cultura ao nível do povo”. A partir dessa frase de Simone de Beauvoir, evidencia-se a importância cultural na formação nacional, uma vez que é a partir da cultura que um povo consegue entender sua história e seus costumes. Dessa forma, é importante uma discussão sobre a proteção do patrimônio histórico-cultural brasileiro, sobretudo no que tange à desconstrução da identidade cultural e da ineficiência do poder público.         Cabe destacar, de início, o conceito de modernidade líquida, de Zygmunt Bauman. Para o filósofo, a sociedade está em constante mudança, não adquirindo uma mesma forma por muito tempo, assim como o líquido. Nesse contexto, entende-se que a rápida modificação social prejudica a identidade cultural, haja vista a quantidade de informações novas que surgem diariamente. Consequentemente, a forma individual de enxergar o mundo e se posicionar em relação a ele, também é instável. Desse modo, a construção e a preservação dos patrimônios históricos tornam-se desnecessárias e obsoletas na visão do indivíduo contemporâneo, que não percebe a herança identitária deixada pela cultura ao passar dos anos, já que a construção e desconstrução de novos pensamentos é bastante rápida.         Vale ressaltar, ainda, o pensamento do sociólogo Auguste Comte: “não existe sociedade sem governo, assim como governo sem sociedade”. Essa frase explicita a reciprocidade entre tais partes, ou seja, não só o cidadão necessita reconhecer a importância histórico-cultural, mas também o Estado precisa estimular esse reconhecimento. Contudo, nota-se um descaso do governo em relação à cultura, exemplificado pelo incêndio ocorrido no Museu Nacional em 2018, cuja situação era de má conservação. Ademais, num país onde a guerra ideológica é preponderante sobre a resolução das questões sociais, a preocupação do Estado volta-se à implementação de seus ideais, resultando em má gestão pública e verbas direcionadas ao atendimento de interesses políticos minoritários.        Diante de tais argumentos, portanto, é necessário garantir a eficiência do Estado na construção de uma identidade cultural. Dessarte, cabe à Secretaria da Cultura, junto ao Ministério da Educação, devido à sua capacidade de formar e instruir mentalidades, a promoção de aulas e eventos dentro de escolas e universidades, por meio da disponibilização de profissionais que mostrem a importância da cultura no desenvolvimento individual e nacional, a fim de instigar tal pensamento desde cedo nos cidadãos. Ademais, é preciso que o Ministério da Cidadania garanta a proteção e o reconhecimento dos patrimônios histórico-culturais, mediante o redirecionamento de verbas, com melhor gestão da Lei Rouanet, para sua preservação através de gerações. Com essas medidas, será possível elevar o nível da população brasileira ao da cultura, como defendido por Beauvoir.