Enviada em: 03/09/2019

Na obra "Crítica da razão pura", o filósofo alemão Immanuel Kant lança o imperativo categórico: "a razão é a função reguladora da atividade do sujeito do conhecimento". Nessa perspectiva, infere-se que, em muitos casos, a fragilidade humana pode ser mediada pela emoção. Logo, ao se discutir sobre preservação do patrimônio histórico no país, é preciso compreender que tal bem representa a materialização da cultura. É perceptível que, mesmo com todos os avanços vivenciados pela pós-modernidade, políticas públicas de conservação ainda são ausentes. Diante dessa realidade, cabe examinar de que modo a valorização da arquitetura local relaciona-se com a identidade de um povo e observar os possíveis impactos dessa conduta.    Em um primeiro plano, constata-se que o descaso governamental com estruturas arquitetônicas, por exemplo, evidencia a maneira na qual o acervo é tratado. Sob essa ótica, embora qualificado de agir pela razão, o indivíduo é capaz de ignorar a dimensão representativa e identitária do legado construído por tais obras. Isso porque, de forma geral, os agentes públicos não promovem o envolvimento das comunidades com os bens de memória coletiva. Em vista disso, percebe-se a falência da conscientização e da sensibilização dos grupos sociais, na medida em que eles não se enxergam inseridos no processo de formação dos costumes e dos hábitos socioculturais.    Outro ponto, que merece um olhar atento, harmoniza-se com a visão do escritor José Saramago de que são os próprios habitantes que atuam diretamente na manutenção das tradições. Conforme advoga o pensador português, o sujeito contemporâneo, conduzido pela cegueira moral, age de maneira irracional. Nesse sentido, nota-se que a educação patrimonial é um passo fundamental na configuração das questões estruturantes da sociedade. Além disso, não se pode negar que cabe às gerações atuais o papel de refletir sobre os inúmeros elementos simbólicos que dão significado à sua existência.    A partir dos argumentos apresentados, verifica-se urgência em remodelar o pensamento atual. Nesse aspecto, é imprescindível que o Governo Federal, em parceria com o Ministério da Cultura, estabeleça como meta a adoção de medidas eficientes de proteção que ofereçam caminhos para a preservação desse conteúdo, por meio de registros físicos e digitais, a fim de promover a perpetuação etnográfica. Ademais, torna-se pontual que os governos municipais, em consonância com as instituições de ensino, desenvolvam o estudo da antropologia historiográfica, mediante ações concretas como a criação de matérias específicas desde a educação básica, com o propósito de diminuir o abismo secular de desvalorização cultural. Desse panorama, acredita-se que a razão, como aponta Kant, possa ser o elemento regulador, para desconstrução desse cenário em que a insensatez impera.