Enviada em: 01/11/2017

Sonho ufanista        Na obra pré-modernista “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, do escritor Lima Barreto, o protagonista acredita fielmente que se superados alguns obstáculos o Brasil projetar-se-ia ao patamar de nação desenvolvida. Hodiernamente, é provável que o major Quaresma desejasse pôr fim às deficiências do transporte público, lamentáveis falhas que atentam contra o direito de ir e vir. Esse cenário perdura, principalmente, pela inobservancia do estado somada à cidadãos já familiarizados com o problema.               Em primeiro lugar, é notório que o a negligência do governo está na origem do problema. De acordo com o economista inglês John Maynard Keynes, é dever do Estado suprir as necessidades básicas de seus cidadãos e assegurar-lhes o bem-estar. Contudo, o poder público vem há décadas ignorando sua responsabilidade de prover um transporte barato e decente nas grandes metrópoles e, por esse motivo, milhares de indivíduos convivem com passagens caras, metrôs lotados, poucas linhas de ônibus e frotas ultrapassadas. Por conseguinte, uma mudança nesse panorama requer que o Estado assuma um papel mais ativo no setor.                    Além disso, a cronicidade do problema é um entrave à resolução desse fenômeno. Segundo o poeta e dramaturgo francês Victor-Marie Hugo, entre um governo que faz o mal e o povo que o consente, há certa cumplicidade vergonhosa. À vista disso, pode-se afirmar que o fato de grande parte da população ter se habituado com a situação – por esta já existir há décadas no pais – deve ser encarado como motivo de vergonha pois, em certa intensidade, esse comportamento da liberdade para que o Estado e a iniciativa privada continuem tratando o setor com descaso.               Denota-se, portanto, que reformar o transporte público urbano constitui um sério desafio para o país. Às igrejas e sindicatos, importantes aglutinadores sociais, compete exigir do Estado mediante protestos e abaixo-assinados que o Ministerio dos Transporte arque com a ampliação da malha metroviária urbana, construindo novas linhas entre a periferia e o centro, objetivando desafogar as linhas de ônibus. Paralelamente a mídia, grande influenciadora, deverá conscientizar a população sobre alternativas para a mobilidade urbana mediante veiculação de comerciais didáticos em horário nobre, com o intuito de engajar a população na luta por um transporte mais eficiente. Assim, com Estado e sociedade civil e unindo forças em prol de um país mais justo e humano, o sonho ufanista do major Quaresma estará mais próximo de tornar-se realidade.