Enviada em: 20/06/2018

"Panis et Circenses"       Para os gregos antigos, o culto à forma física era influenciado pelo desejo de assimilar a beleza e a força dos deuses do Olimpo. Dessarte, as Olimpíadas eram uma homenagem ao principal deus do panteão: Zeus. No mundo hodierno, contudo, trata-se de uma celebração planetária de valorização dos esportes, superação dos limites e respeito entre as nações. Entretanto, tal comemoração tem escancarado as mazelas e as desigualdades sociais existentes, sobretudo em países emergentes como o Brasil.       De acordo com Zygmunt Bauman, a sociedade pós-moderna vive tempos nos quais o indivíduo busca incessantemente por prazeres imediatos, inclusive por meio do consumo exacerbado de entretenimento. Nesse contexto, a realização das Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2016 pode ser encarada como um reflexo da modernidade líquida baumaniana, tendo em vista que o usufruto proporcionado pelo evento pode ter sido efêmero para a grande parcela da população brasileira.       Outrossim, apesar do caráter de cooperação estimulado pelos jogos, o espetáculo ressalta o individualismo e a ausência de empatia presente na sociedade, pois os desalojamentos para sua realização são frequentes, mormente nas nações em desenvolvimento. Tal fato contrasta com a grandeza e a riqueza das estruturas construídas para a festa. No Brasil, por exemplo, os jogos receberam tecnologias inovadoras numa estrutura que foi a mais cara já concebida para uma olimpíada, justamente num país onde o IDH não acompanha o crescimento econômico.       É essencial, portanto, suplantar a fluidez dos novos tempos para que todos possam desfrutar de uma felicidade duradoura, almejando alcançar a igualdade social. Cabe, pois, à sociedade, por meio das redes sociais, denunciar as irregularidades olímpicas compartilhando ideias empáticas a respeito dos desalojados. Além disso, o governo pode utilizar as construções destinadas aos atletas para a criação de moradias populares. Dessa forma, transformar-se-á a modernidade, superando os versos cantados pelo grupo Os Mutantes: "Mas as pessoas na sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer".