Enviada em: 27/09/2017

No livro "1984", de George Orwell, há um contexto de pós-verdade , em que a crença no Grande Irmão e a persuasão pelas sensações alienam e afastam a população da realidade. De maneira seme- lhante as notícias falsas veiculadas nos meios de comunicação atuam de forma sensacionalista , distor- cendo os fatos reais. Paralelamente, assim como na obra literária o governo totalitário consegue se firmar, o jornalismo brasileiro é tendencioso em prol de grupos dominantes. Posto isso, a falta de meca- nismos reguladores e o déficit da população em investigar reportagens são evidentes.       Convém analisar que o jornalismo brasileiro é frágil, devido à associação entre uma população desinformada e o interesse de seletos grupos em manipular . De acordo com a modernidade líquida, intitulada pelo filósofo Zygmunt Bauman, o indivíduo estabelece relações superficiais e rápidas. Por es- se pressuposto, pode-se afirmar que a falta de tempo e o excesso de informações estão relacionados com a assimilação de dados sem uma investigação prévia da fonte e da comprovação dos fatos. Com isso, empresas conseguem descredibilizar concorrentes com a viralização de boatos e a mídia é capaz de modificar o foco da sociedade por meio do sensacionalismo. Como exemplo, a má interpretação da decisão judicial decisão judicial, intitulada de "Cura Gay" nas mídias, causou mobilização nas redes sociais e desviou a atenção dos escândalos políticos.       Outrossim, é válido ressaltar que a ausência de órgãos que regulem as divulgações nos meios de comunicação permite a disseminação de notícias falsas. Análogo ao conceito químico de catálise - em que uma substância é capaz de acelerar uma reação -  a falta de punição funciona como um catalisador para a criação de mentiras. Ademais, a dificuldade de combater os crimes virtuais concedem à população a facilidade de espalhar boatos nas redes sociais. Dessa forma, o jornalismo responsável brasileiro é afetado, uma vez que o sentimento de descrença é instaurado. Como prova disso, o equívoco  na divulgação da morte do compositor Arlindo Cruz causou a indignação e a crítica aos sites jornalísticos. Por conseguinte, é importante que esse tipo de reportagem seja devidamente repreendida.       Fica claro, portanto, que a pós-verdade associada ao livro supracitado precisa ser desestruturada. Para isso, o Poder Público, em parceria com a mídia responsável, deve articular campanhas que incentivem a população a investigar os fatos comprovatórios de notícias e que esclareçam a criminalidade em divulgar boatos. Essa mobilização conjunta pode acontecer por intermédio de palestras nas escolas, propagandas na televisão ou de outdoors e banners em áreas com grande circulação de pessoas. Desse modo, é possível que o temor por uma punição legal e social incentive o senso de responsabilidade e que a população seja resistente a manipulação.