Enviada em: 17/09/2019

Em 1945, foi criada a Fundação da ONU para a alimentação. Tal acordo  detém, até a modernidade, o legado de tornar a distribuição de alimentos menos desigual e combater a subnutrição, no vasto espaço terrestre. No entanto, a defasagem na democratização nutritiva, em grande parte do território brasileiro, expõe a fragilidade de órgãos governamentais e sociedade civil em cumprirem termos estabelecidos há mais de meio século.  Com efeito, a crise na promoção de alimentos é alarmante e, assim, convém reverter a problemática.     A princípio, é importante enfatizar que o desabastecimento alimentar, de diversos indivíduos, constrói-se a partir da má distribuição de tais artefatos e, não, da sua ausência produtiva. Isso se torna claro ao analisar dados da ONG ''Greenpeace'', que pôs, paradoxalmente, o Brasil como um dos maiores produtores agrícolas, contudo, em destaque negativo de distribuição desses bens. A esse respeito, a análise auxilia na interpretação de que o país prioriza acordos comerciais e vantagens lucrativas, em detrimento da alimentação de toda população. Assim, torna-se clara a tese de Gilberto Freyre, que aponta o viés individualista e o frágil pensamento coletivo humano contemporâneo.      Ademais, além da desigualdade econômica, a irregular distribuição de alimentos contraria termos estabelecidos por próprios artigos constitucionais. Nesse sentido, a Carta Magna verde-amarela possui, como um de seus pilares primordiais, o combate a qualquer entrave social, que ponha em xeque a vida dos cidadãos. Ocorre que, a persistência da fome, para parcela de brasileiros, demonstra a negligência de órgãos de autoridade na perpetuação de valores democráticos. Por conseguinte, esse cenário se encaixa no que o pensador Zygmunt Bauman teoriza como ''Instituição Zumbi'': um poder que mantém a sua forma teórica, mas não cumpre, na prática, a sua função social. Dessa forma, entende-se que enquanto a imobilidade do Estado for regra, o progresso de um país sem fome será exceção.