Enviada em: 22/09/2017

Bendita Geni             A novela "A força do querer", exibida em horário nobre na televisão aberta, concedeu visibilidade à transexualidade com a personagem Ivana, que enfrenta dificuldades ao expor sua disforia de gênero à sociedade. Fora da ficção, as pessoas que compartilham dessa história sofrem segregação e convivem com o medo da violência, graças à intolerância.        Transexuais vêm sendo marginalizados e excluídos dos espaços sociais, sendo a causa maior disso a reduzida alteridade para com eles. Por ignorância e receio da diferença do outro, gera-se falta de empatia, dificultando, assim, o reconhecimento desse como igual e humano. Dessa forma, propaga-se entre a população o preconceito contra transgêneros, os quais, ao demonstrarem sinais da sua condição, acabam evadindo do meio escolar, por conta do bullying pesado; têm currículos negados no mercado de trabalho, e, como se não bastasse, correm risco de serem expulsos de casa pela própria família. Tal contexto tem por consequência a vulnerabilidade desses indivíduos.       A transfobia implica maior suscetibilidade a agressões físicas e morais, redundando baixa qualidade de vida. "Geni e o Zepelim", música de autoria de Chico Buarque, conta a trajetória de uma travesti que é tratada pelos habitantes de sua cidade como alguém que nasceu para apanhar e que é vítima de constantes chacotas. O cenário retratado condiz com a realidade do país, o que está comprovado pelas estatísticas: segundo relatório online da instituição Grupo Gay da Bahia, as taxas nacionais de homicídio motivado pelo ódio a transexuais são as maiores registradas no mundo inteiro; a Associação Nacional de Transexuais e Travestis do Brasil, por sua vez, registra que brasileiras participantes dessa faixa populacional vivem em média 35 anos, enquanto a expectativa geral é de 75, conforme dados do IBGE. A minoria social carece, pois, de maior atenção e assistência do Estado.        Diante da força do preconceito, urge a necessidade de implementar medidas que visem a proteger os transexuais, a fim de garantir-lhes uma vida mais próxima do ideal para um cidadão. Portanto, a Câmara dos Deputados deve criar um projeto de lei que criminalize manifestações transfóbicas. Após ser aprovada, sua aplicação deve ser garantida com canais de denúncia, mediante criação de um número telefônico específico para isso, bem como monitoramento estatístico mensal, ações cuja responsabilidade seria do Ministério dos Direitos Humanos. Ademais, é mister distribuir cartilhas educativas que tratem da diversidade de identidade de gênero nas escolas e em postos de saúde, assim como preparar professores e médicos para tratarem do assunto, agindo como promotores de mudança do pensamento social. Destarte, haverá um futuro no qual Geni nunca mais será maldita.