Enviada em: 13/04/2018

Na obra de Machado de Assis "Memórias Póstumas", o defunto-autor Brás Cubas diz que não teve filhos, sendo assim não transmitiu a nenhuma criatura o legado da nossa miséria. Decerto, hoje ele percebesse acertada sua decisão: a postura de muitos brasileiros frente a intolerância em relação aos travestis, transexuais e transgêneros, ou seja, a transfobia é uma das faces mais perversas de uma sociedade. Desse modo, deve-se analisar a herança histórico-cultural junto a individualização da pós-modernidade.     De acordo com o sociólogo Pierre Bourdieu, em sua teoria "Habitus", toda sociedade incorpora os padrões sociais impostos e os reproduzem ao longo das gerações. Indubitavelmente, a atuação do cristianismo na colonização brasileira impôs que o gênero não pode ser construído socialmente, ou seja, ele é determinado no nascimento, conforme o sexo da pessoa. Sendo assim, a nossa sociedade incorporou essa imposição e infelizmente naturalizou o preconceito junto a discriminação e violência com as pessoas que não seguem tal padrão. Isso é notório à medida em que o Brasil, infelizmente, é o líder do ranking mundial de assassinatos contra a população trans, segundo dados da organização Transgender Europe.      Outrossim, na sociedade hodierna, conforme defendeu Zygmunt Bauman nas obras que retratam a liquidez do momento em qual vivemos o individualismo é, lamentavelmente, comum. Isso é notável à proporção em que a sociedade não conseguem se colocar na situação do outro indivíduo, sem saber como agir a frente de opiniões, sentimentos e pensamentos diferentes daquele que já estão habituados. Por conseguinte, o cidadão trans é excluído da sociedade ao passo que a discriminação e o preconceito cresce, para exemplificar segundo a Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco (Amotrans-PE), 80% das trans pernambucanas abandonaram os estudos em decorrência da intolerância no ambiente escolar. Dessa maneira, tal população é marginalizada perante a sociedade.       Em suma, é necessário combater urgentemente a transfobia, para tal é necessário que o Ministério da Justiça através da arrecadação de impostos, crie uma ouvidoria anônima que funcione em tempo integral, tal como delegacias especializadas para esses casos, com o intuito de incentivar as denúncias em prol do combate a problemática. Ademais, é preciso que a mídia, como uma potente formadora de opinião, insira programas de abrangência nacional em seu repertório que informem os cidadãos sobre ideologia de gênero, além das crueldades vividas pela população trans a fim de conscientizar a população a não praticar a transfobia, como também motivar a solidariedade, para que seja produzido um senso de coletividade, com a finalidade de incluir tais pessoas na sociedade.