Enviada em: 02/08/2018

É ela um dos sintomas deste desgarramento do homem no mundo que, vendo cerradas as portas de acesso à unidade originária, vai investigar, solitário, a dinâmica de sua existência individual. Na obra "Felicidade Clandestina", de Clarice Lispector, foi retratada a realidade de isolamento social vivida por Macabéa e compartilhada por muitos brasileiros. Nesse sentido, são muitos os fatores que contribuem para o aumento da impessoalidade e do sentimento de solidão nos centros urbanos, isso se evidencia não só pelas construções históricas como também pela ausência de políticas públicas que estimulem o acolhimento de pessoas em situação de vulnerabilidade social. Em uma primeira análise, é possível evidenciar que os efeitos do sentimento de abandono mostram-se gradativamente mais nocivos por estarem fortemente enraizados na cultura da sociedade hodierna. De acordo com dados do portal de notícias El país uma em cada três pessoas sente-se sozinha na sociedade da hiperconexão e das redes sociais, tal fato justifica o crescente número de doenças emocionais como a depressão. Dessa maneira, é inadmissível que o Estado se omita diante dessa crise social em que estão inseridos milhares de indivíduos, totalmente sem assistência médica, sendo mantidos em condições desumanas de isolamento social. Já em uma abordagem mais aprofundada, sabe-se que a adoção e hábito de se cuidar do próximo não configuram-se como costumes difundidos entre os brasileiros, conjuntura comprovada através das inúmeras casas de idosos repletos de indivíduos. Segundo a Constituição Federal de 1988, no seu artigo 230, é dever do Estado amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar, bem como, garantindo-lhes o direito à vida. Todavia, infelizmente, suas garantias não são atendidas como deveriam nem pelo poder executivo nem pelos familiares que em muitos casos mesmo possuindo condições financeiras preferem se ausentar dessa responsabilidade deixando que pessoas a quais viveram tanto tornem-se solitárias. Logo, Lispector, apontou no século XX os flagelos que ainda assolam a nação, falando sob a perspectiva de quem não possui ninguém e se sente isolado do restante da sociedade. Nessa continuidade, é necessário que o Governo Federal, através das prefeituras, implemente medidas culturais que visem amenizar tal fato: promoção de projetos em que a população se voluntarie e por meio de mutirões, pessoas comuns e profissionais façam visitas periódicas aos moradores em situação de rua,bem como, crianças e idosos nos lares de acolhimento, realizando peças teatrais e musicais, piqueniques e brincadeiras. Espera-se, com isso, não só fazer com que o sentimento de abandono social seja minimamente reduzido, como também melhorar a qualidade de vida dessas pessoas.