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Enviada em: 18/06/2018

Em suas "memórias póstumas", Brás Cubas, defunto autor de Machado de Assis, revela seu contentamento por não ter tido filhos, visto que não transmitiu a nenhuma criatura o legado da miséria humana. Miséria justificada pela persistência de questões vergonhosas da história da humanidade ainda na contemporaneidade, entre elas os casos de assédio sexual e os inúmeros desafios para erradicá-los.       É de extrema preocupação a alta regularidade dos casos de assédio sexual no Brasil contemporâneo, principalmente pelo fato de suas ocorrências decorrerem do pensamento retrogrado e machista ainda existente na sociedade brasileira. Preocupante porque a objetivação da mulher em virtude do pensamento de superioridade masculina já devida ter sido superada. Entretanto, os relatos de abuso em transportes públicos, casas de festas e ambientes de trabalho são sobremaneira frequentes. O abuso sofrido por uma figurinista da Globo pelo ator José Mayer exemplifica bem tal fato.         Ademais, os desafios no combate de tal realidade são intensificados pelo receio de muitas mulheres de denunciarem essas práticas desrespeitosas. Bem como a dificuldade encontrada por aquelas que decidem tomar uma atitude, já que grande parte dos assédios são realizados por estranhos, sendo quase impossível o conhecimento de informações sobre o acusado, como nome e endereço. Punições leves e pouco eficazes também contribuem para grande incidência dos casos, na medida em que não causam nenhuma espécie de amedrontamento em seus praticantes.        Diante do foi discutido, nota-se a urgência na adoção de medidas que revertam o quadro apresentado. Entre elas, a diversificação dos canais de denúncia, que podem contar com a utilização das redes sociais em parceria com a polícia civil, em que o compartilhamento de fotos e vídeos de tais crimes com páginas voltadas para investigação tornariam o processo menos burocrático e, de certa forma, mais convidativo a prática de denúncias. Outra proposta interessante além da aprovação de punições mais severas aos acusados, seria a criação de uma matéria obrigatória na grade curricular escolar: "Formação cidadã", pelo Ministério da Educação, que trabalharia questões dentro do campo sociológico e antropológico na construção de cidadãos mais respeitosos para com os outros, erradicando, com o tempo, o pensamento equivocado de que os homens têm algum poder sobre as mulheres e assim, transmitindo às sociedades futuras um legado menos miserável e vergonhoso.