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Enviada em: 16/03/2018

"Feia de cara, mas é boa de bunda, olhe só, é a pequena Raimunda". O trecho da banda Os Raimundos reproduz a falsa valorização do corpo feminino no momento em que sua face é dita como feia, mas o seu corpo desperta desejo. Numa realidade onde músicas que seguem este padrão são cantadas e veneradas, torna-se ainda mais difícil reduzir os casos de assédio sexual, pois observar os atributos da mulher de forma vulgar e externar isso sem sua permissão acaba parecendo algo normal.   No entanto, mulheres sofrem dia após dia, por não terem a liberdade de andar pelas ruas sem ouvir cantadas e piadas abusivas. É dito por muitos que as suas vestimentas é que induzem os homens ao assédio, porém, se isto fosse verdade, não existiriam casos de assédio sexual em lugares onde mulheres usam a burca, mas existe. Ademais, nota-se que atribuir a culpa à vítima fomenta a persistência dessa situação.     Lutar contra o assédio é difícil, mas segundo Confúcio, é mais fácil vencer um hábito ruim hoje do que no dia seguinte. Afinal, se a ideia de que assediar alguém é normal está na mente das pessoas, com o passar do tempo, esse pensamento tende a se enraizar e se tornar ainda mais difícil de ser revertido. Muito do que se fala e faz hoje é reflexo do que foi visto ou escutado, ou seja, é uma reprodução de atos que outrora foram cometidos.       Dessa forma, ocorre a perpetuação da objetificação da mulher. A mídia, por meio de propagandas como as de cerveja, também veicula a imagem feminina como apenas um objeto de prazer e satisfação para os homens, o que os encoraja ainda mais a "elogiá-las" na rua, talvez até acreditando que alguma delas irá gostar, como gostam as mulheres das propagandas.      Os desafios para reduzir os casos de assédio são vários, portanto, medidas são necessárias para que estes sejam vencidos. A mídia deve evitar veicular propagandas e mensagens que objetifiquem a imagem feminina, para que ela deixe de ser vista unicamente como objeto de prazer. Outrossim, o governo deve criar novas políticas de proteção à mulher, a fim de fazê-la sentir mais segura para exercer o seu direito de ir e vir. Os cantores e compositores, por sua vez, devem investir em músicas que não induzam ao assédio, mas que mostrem que o corpo da mulher é dela e não deve ser invadido. Nenhuma mulher quer ser uma Raimunda, e nenhuma precisa ser.