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Enviada em: 02/01/2019

Em 1516, com a obra "Utopia", o autor inglês Thomas More se destacou no campo literário mundial ao narrar a construção de uma ilha imaginária onde as mais diversas engrenagens nacionais trabalhavam em perfeita harmonia. Fora da literatura e sob análise de perspectivas contemporâneas, entretanto, nota-se que, cada vez mais, o Brasil se afasta do sonho de alcançar tal eufonia: refém da ascensão capitalista, o país tem assistido a uma expansão perigosa do agronegócio em suas terras. Nesse sentido, diante de uma realidade instável e temerária que mescla conflitos nas esferas ambiental e humana, analisar seriamente as raízes e os frutos dessa problemática é medida que se faz imediata.       Primeiramente, é importante perceber que o avanço do agronegócio no país trouxe consigo a execução de uma agenda que, ao passo que superexplora os biomas locais, acende um alerta sobre as consequências naturais de tal conjuntura. De fato, assim como explica a Terceira Lei de Newton, é possível depreender que, para toda ação antrópica contra o meio ambiente, há uma reação de mesma pujança contra a humanidade. Assim, por exemplo, a atuação desregulada desse empresariado no Cerrado corrobora o temor acerca dos efeitos da degradação do meio, uma vez que a devastação nesse espaço comprometeu enormemente toda uma sociedade ao pôr em risco a regulação do clima e a disponibilidade de água na região que, por sinal, tem a maior produção agrícola e pecuária do país.       Além disso, é imprescindível notar que a ascensão desse negócio tem alimentado uma grave, pois violenta e abusiva, disputa de terras por todo o território tupiniquim. Com efeito, ampliado por um tecido fundiário historicamente conflituoso, é incontestável que a grande necessidade espacial que o agronegócio requereu e conquistou vai de encontro a toda uma luta travada há anos para uma divisão mais justa do campo e, logo, vem como um catalisador para uma série de tragédias pelo interior do país. Nesse cenário, infelizmente, os antiutópicos casos dos Gamelas e de Colniza e o massacre de Pau D'Arco entram para a estatística como apenas mais algumas das muitas consequências do choque de interesses em que, novamente, o agronegócio e a disputa fundiária se mostram presentes e ativos.       Fica claro, portanto, que a modificação da patológica conjuntura nacional marcada pelos expressivos efeitos da expansão do agronegócio perpassa a necessidade de ressignificar ações ineficazes. Para tanto, os Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e do Meio Ambiente (MMA) devem, em conjunto, reconhecer e combater mais incisivamente tais frutos desse crescimento por meio de legislações que prevejam penas mais duras aos exploradores e um maior monitoramento no campo a fim de evitar danos permanentes à natureza e tragédias humanas advindas desses conflitos. Somente assim, com esforços conjuntos, será possível retornar ao caminho de Utopia.