Enviada em: 25/04/2019

Segundo o previsto pela Constituição brasileira, a educação insere-se como um direito de todos e dever do Estado e da família. Nesse contexto, surge o conflito de ideias sobre o limite do poderio dos pais sobre a educação de seus filhos, principalmente no que se refere à possível legitimação do "homeschooling" no país, opção de ensino que substitui o ambiente escolar pelo domiciliar. Contudo, esse método pode alavancar entraves como a dificuldade na socialização dos infantes, o aumento da desvalorização dos professores, e a dificuldade na identificação de abusos vivenciados no seio familiar, itens que corrompem o progresso educacional brasileiro, bem como o bem-estar dos educandos.       De fato, a educação domiciliar no Brasil apresenta-se como uma prática em ascensão, sendo uma alternativa viável para vários pais, por motivos, sobretudo, religiosos, econômicos e políticos. No entanto, apesar de conferir aos filhos maior segurança, desenvoltura autodidata e convívio com metodologias e grupos de pessoas selecionadas, o ambiente domiciliar pode privar as crianças e jovens do contato com o cenário vivo de troca de ideias múltiplas e socialização proporcionado pela escola, instituição que possui esse papel reconhecido pela Lei 9394, a qual destaca o caráter socializante da escola, apontado como crucial para a formação de indivíduos críticos e com conclusões multifacetadas.    Ademais, a regularização da educação domiciliar pode enrijecer a premissa de que gerir integralmente o processo de ensino e aprendizagem das crianças e jovens é uma tarefa factível para qualquer indivíduo, o que contribui para o aviltamento do papel do profissional docente. Além disso, a ocorrência veiculada pelo site de notícias G1, em que, no Mato Grosso, após assistir a uma palestra em sua escola sobre abuso sexual, uma criança de 10 anos procurou a professora e alegou ser uma vítima em seu lar, reforça a relevância inegável da escola na percepção de abusos cometidos pelas famílias e indivíduos próximos aos discentes, funcionando como refúgio e ponto de discussão de temáticas sociais pertinentes, ações  que podem ser renegadas pelos pais  no estudo em casa.       Portanto, a fim de monitorar o progresso estudantil e avaliar a segurança da dinâmica familiar no "homeschooling", é fulcral que o Poder Legislativo, caso legitime a educação domiciliar, institua programas eficazes de capacitação pedagógica básica para os pais, por meio de entrevistas programadas, comandadas por assistentes sociais e pedagogos, e acompanhamento psicológicos às famílias. Além disso, é essencial que as mídias contribuam para disseminar uma noção mais incisiva acerca do papel crucial das escolas e professores na educação e socialização dos discentes, bem como no acolhimento de temas e contratempos de origem familiar dos alunos, por meio de filmes e séries que abordem a temática, com o fito de modelar uma cultura de maior apreço por esses agentes.