Enviada em: 06/07/2019

Na Grécia Antiga, existia um grupo de filósofos denominado sofistas, os quais eram conhecidos por manipular o discurso e baseá-lo na "moral convencional", método em que a verdade depende de quem fala. Nesse contexto, pode-se traçar um paralelo com a alienação parental. Esse problema, no qual o pai ou a mãe manipula o filho, de modo a obter seu apoio na briga conjugal, é extremamente perigoso às crianças e deve ser combatido, visto que pode interferir na esfera social e intelectual delas, trazendo consequências determinantes para seus futuros.       A princípio, é preciso considerar a importância da família e as implicações de seu papel social. Nesse sentido, o sociólogo Anthony Giddens, baseado na "Teoria da Estruturação", caracterizou a instituição familiar como a primeira responsável pelo processo de socialização das crianças. Sob essa ótica, ela é a encarregada de ensinar aos pequenos regras de comportamentos sociais importantes para a introdução deles na comunidade. Dessa maneira, quando pais e mães - ou outros responsáveis - não desempenham adequadamente suas funções de educadores, podem despertar nos filhos dificuldades de interação na escola e, com isso, prejudicar seu rendimento escolar, por exemplo.       Somado a essa perspectiva, existem também consequências cognitivas advindas de um ambiente familiar conturbado. Nessa conjuntura, Dráuzio Varella, em seu livro "Palavra de Médico", apontou que a fase máxima de desenvolvimento do córtex pré-frontal, referente à evolução intelectual, acontece aos quatro anos, daí a necessidade de a criança estar imersa em um ambiente aprazível e repleto de estímulos. Por conseguinte, espaços caóticos, marcados por brigas, discussões e manipulações características da alienação parental, podem causar falhas duradouras no cérebro infantil, as quais o acompanharão ao longo de toda a vida adulta.       Fica claro, portanto, que a alienação parental é perigosa e precisa ser combatida por todos. Para ajudar nesse feito, o Conselho Tutelar, em parceria com instituições escolares, deve criar um projeto de acompanhamento infantil. Isso pode ser feito por meio de equipes de pedagogos e psicólogos que visitem as escolas do município semanalmente para colher dados do rendimento escolar e também realizar atendimentos individuais com as crianças, de modo a detectar problemas familiares, aconselhá-las e, dependendo do caso, acionar varas responsáveis pelo Direito da Família. Assim, as consequências da alienação parental poderão ser amenizadas, as crianças terão seu desenvolvimento psicossocial preservado e a manipulação será característica dos sofistas e não mais do ambiente familiar.