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Enviada em: 19/01/2019

Na obra pré-modernista "Triste Fim de Policarpo Quaresma", do escritor Lima Barreto, o protagonista acredita fielmente que, se superados alguns obstáculos, o Brasil projetar-se-ia ao patamar de nação desenvolvida. Hodiernamente, é provável que o major Quaresma deseja-se pôr fim à desnutrição infantil, lamentável falha que atenta contra o desenvolvimento social. Esse cenário perdura, principalmente, pela inobservância do Estado somada à postura conivente dos cidadãos já familiarizados com o problema.   A princípio, a Constituição Cidadã de 1988, consolidou o direito infantil de viver livre da fome e da desnutrição, todavia, o Poder Executivo não efetiva esse direito. Consoante Aristóteles no livro "Ética a Nicômaco", a política serve para garantir a felicidade dos cidadãos, logo, verifica-se que esse conceito encontra-se deturpado no Brasil à medida que a alimentação ofertada nas escolas públicas brasileiras não obedece às regulamentações estabelecidas pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar, que prevê o atendimento de 15% das necessidades nutricionais diárias de uma criança.   Outrossim, nota-se que aceitar a não normatização da merenda escolar é banalizar o mal. Segundo o Índice Integrado de Desenvolvimento Social, lançado pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, de 2016, 4 à cada 5 estudantes entrevistados, afirmaram que a alimentação oferecida na rede pública de ensino, além de insuficiente, não atende as necessidades nutricionais dos alunos durante o período letivo, na medida em que servem diariamente a mesma refeição. O descaso com a alimentação desde a infância, pode comprometer o entendimento da realidade em que o indivíduo está inserido, dificultando a conquista da cidadania plena. Porém, parte da sociedade têm aceitado esse quadro crítico sem questionar, a naturalização desse problema pode ser explicada a partir dos estudos da filósofa Hannah Arendt, visto que, devido a um processo de massificação, as pessoas estão perdendo a capacidade de discernir o certo do errado.   Portanto, indubitavelmente, medidas são necessárias para resolver o problema. A priori, urge que o Ministério da Saúde, estabeleça um plano nacional de merenda escolar, o que poderia ser feito, por  meio do mapeamento das regiões mais afetadas por doenças atreladas à desnutrição, elaborando um cardápio à ser implementado nas escolas públicas e disponibilizando nutricionistas. Ademais, o Ministério da Educação deve investir em feiras esportivas nas escolas e nas comunidades, incluindo a participação discente, docente e familiar, mostrando por meio de palestras e encontros a importância de uma alimentação balanceada desde a infância. Assim, com o Estado e sociedade civil unindo forças em prol de um país mais justo, o sonho ufanista do Major estará mais próximo e tornar-se realidade.