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Enviada em: 21/05/2019

Ao longo do processo de formação do homem moderno, a arte sempre esteve intrinsecamente relacionada ao desenvolvimento histórico e sociocultural das comunidades, como na sociedade italiana renascentista. Contudo, hodiernamente, as manifestações artísticas encontram impeditivos no ambiente educacional, configurando-se como uma das contradições mais perversas de uma sociedade em desenvolvimento, o que se deve a fatores como descaso social e negligência acadêmica estatal.       Deve-se pontuar, de início, que a falta de desvelo do tecido social e o viés pejorativo acerca das expressões artísticas mostram-se como campos férteis para o descaso no ambiente educacional. Nesse contexto, de acordo com a teoria do “Habitus”, proposta pelo sociólogo Pierre Bourdieu, a sociedade incorpora, naturaliza e reproduz modelos e concepções impostas à sua realidade. De maneira análoga, é possível perceber que as manifestações artísticas, como as artes visuais, teatro e a dança ao serem vistas apenas como entretenimento e ociosidade, não são valorizadas como meios de desenvolvimento intelectual. Tal visão limitada inibe uma maior participação dos diferentes autores no debate social necessário para a reivindicação do engajamento artístico na educação moderna, visto que a escola é reflexo verossímil de seu entorno social.         De outra parte, é válido ressaltar também que a estrutura educacional inflexível se mostra como um dos pilares do problema. Nesse sentido, quando o estudioso do desenvolvimento intelectual Lev Vygotsky afirma que a escola não deve se distanciar da vida social do aluno, corrobora sua importância em abordar certos eixos temáticos e atividades a respeito das artes. Todavia, é indubitável que essa máxima não é totalmente seguida por grande parte das instituições de ensino, uma vez que são tecnicistas e priorizam conteúdos de raciocínio lógico, sem engajamento em elementos culturais como as artes cênicas, que instigam a reflexão e auxiliam na formação da cosmovisão de mundo. Assim, percebe-se o quanto o papel cultural e informativo oriundo das manifestações artísticas são limitados pela rigidez das diretrizes educacionais.       Para que se reverta esse cenário problemático, portanto, fica a cargo do Poder Legislativo a alteração na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a qual permitirá ao MEC inserir na grade curricular obrigatória do Ensino Fundamental e Médio, adaptando o conteúdo para cada série, disciplinas e atividades periódicas que envolvam as artes cênicas e outras miríades expressivas, a fim de efetivar uma educação, não só técnica, como também em consonância com a cultura nacional. Quem sabe, assim, poder-se-á transformar uma sociedade desenvolvida socialmente, longe de contradições perversas que envolvam concepções que foram tão importantes na formação das civilizações.