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Enviada em: 27/08/2019

“A cultura está acima de diferença social”, eternizou Confúcio, filósofo chinês do Período das Primaveras e Outonos. Na senda dessa reflexão, ao compreender a cultura como um canal de perpetuação do modo com o qual uma sociedade se expressa, é de suma importância o debate sobre a democratização do acesso a esse precioso bem imaterial. Logo, importa destacar a desigualdade social e a negligência governamental como as principais raízes do problema.           Em primeiro plano, é necessário analisar a questão por um prisma socioeconômico. A semana de Arte Moderna, ocorrida em 1929, foi uma importante manifestação artística e literária sediada no teatro municipal de São Paulo. Entretanto, apesar de temas nacionais e de valorização da cultura do país, o evento era restrito à elite. De forma semelhante, tal realidade se perpetua até os dias atuais, pois o entretenimento é oferecido aos que podem custear tal lazer: em 2007, 10% dos mais ricos do país foram responsáveis por cerca de 40% do consumo cultural, segundo dados do IBGE. Dessa forma, a desigualdade torna-se preponderante para a segregação socioespacial.          Em segunda análise, refletir sobre a questão e não negligenciar a inadimplência governamental perante o impasse. O Artigo 214 da Constituição Federal prevê a garantia a todas as fontes de cultura a todo e qualquer cidadão brasileiro. Porém, o que é observado é a escassez de bibliotecas, teatros gratuitos e cinemas, sobretudo em locais interioranos. Portanto, o acesso por parte de todos ao principal instrumento de autopreservação da nacionalidade, por não ser prioridade de investimento do Estado, é um desafio a ser enfrentado. Logo, são urgentes ações efetivas do Governo e da sociedade civil para o fim dos problemas supracitados.         Dado o exposto, o Estado, poder máximo do agregado nacional, deve construir espaços de vivência, cultura e lazer em áreas carentes e de baixos indicadores socioeconômicos. Isso pode ser feito por meio de investimentos financeiros de infraestrutura e planejamento, de forma a garantir a pessoas de todas as classes sociais desfrutem de tal benesse. Outrossim, é de suma importância que corpo social se mobilize para exigir os direitos constitucionais de preservação e democratização do acesso à cultura, mediante a mobilizações nas redes sociais, passeatas e protestos, a fim de gerar uma mudança de comportamento nos representantes democraticamente eleitos. Tomadas essas medidas, enfim, o olhar de Confúcio em relação à cultura, passará de utopia à realidade.