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Enviada em: 02/06/2018

Certamente, de todas as crises que o Brasil vem sofrendo, uma bem lenta e silenciosa aos ouvidos pouco apurados de uma população desinteressada é a que mais afeta, direta ou indiretamente, todas os níveis sociais dos brasileiros. A desvalorização da ciência não é um problema recente no Brasil, porém com ações tão escancaradas como a dissolução do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação em 2016 entende-se que nosso governo tem outras prioridades. Essa deplorável atitude reflete na ausência de reconhecimento da profissão cientista e na emigração de excelentes pesquisadores, contribuindo para a construção de um cenário caótico e desmotivador para a ciência brasileira.   Durante a formação dos futuros cientistas, enquanto escrevem suas dissertações e teses, os alunos de pós-graduação ao declararem que fazem mestrado ou doutorado, frequentemente, escutam de volta: "Você só estuda?" A utilização conotativa diminutiva do verbo estudar qualifica o que a população em geral entende do cientista: um eterno estudante. Essa visão desqualifica os anos de dedicação, de estudo e de trabalho que são consumidos para gerar, sobretudo, ciência e tecnologia. Dessa forma, sem reconhecimento de seu empenho, para exercer e atuar em pesquisa, o profissional é contrato como professor pelas instituições de ensino superior, acumulando dois cargos e carregando nas costas o futuro de formação de jovens e técnico-científico do Brasil.    Tais condições não facilitam, tampouco incentivam o pesquisador brasileiro. Como se não bastasse o sucateamento de sua profissão, os poucos que conseguem exerce-la se veem em laboratórios precários, sem equipamento ou mão-de-obra qualificada, tendo que fazer uso do famoso "jeitinho brasileiro", por vezes, reutilizando materiais que deveriam ser descartáveis. Para outros, e muitos, isso significa abandonar o Brasil. Se instalar em países que efetivamente invistam não só em ciência como no profissional. É nessa hora que surgem as noticias sobre brasileiros que ganharam prêmios internacionais com suas pesquisas trazendo uma verdade absoluta sobre o Brasil: estamos perdendo grandes prossificionais.   Nesse cenário, ações urgentes precisam ser tomadas a fim de reverter e colocar o Brasil em posição de gerador de conhecimento, não somente produtor primário. A começar pelo investimento nos pesquisadores, regularização de sua profissão e criação de cargos técnico-científicos nas instituições superiores, que não fomentados apenas por bolsas-auxílio. Esses pesquisadores devem, por sua vez, atuar ativamente com palestras e seminários, financiados pelo MEC, em escolas de nível básico, não como professores, mas como cientistas. Sobretudo, o pesquisador deve ser incentivado e valorizado, como reflexo da valorização da educação promotora de mudanças no nosso país.