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Enviada em: 06/09/2018

Fogueira das vaidades         Em 2016, auge da crise política e econômica, extinguiu-se o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação; desde então, o setor da ciência caminha em direção ao sucateamento, já tendo perdido muito do seu orçamento público. Tais fatos decorrem, sobretudo, da histórica desvalorização da produção de conhecimento por parte das iniciativas privada e estatal (incapazes de associar avanços tecnológicos e desenvolvimento ao investimento científico); mas também, da fraca conexão entre ciência e sociedade (essa, por desconhecer os avanços nacionais na área, não se engaja em prol da primeira).          Durante o século XVII, a Igreja Católica utilizou-se dos mais questionáveis meios para impedir o desenvolvimento científico europeu, tendo o padre Savonarola considerado-o um produto das vaidades humanas, os quais deveriam ''queimar''. Contemporaneamente, a supracitada região depende fortemente dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento realizados pelos Estados e empresas, objetivando solucionar seus problemas (de: produtividade, concorrência, saúde, equilíbrio da balança comercial, fenômenos ambientais, e outros). Em contrapartida, o Brasil, como descrito, realiza cortes orçamentários, vulnerabilizando-se à dependência tecnológica estrangeira e assegurando atrasos em seu desenvolvimento sócio-econômico e à integração regional, comprometendo sua posição no meio técnico-científico-informacional - no qual conhecimento é poder e controle capital. Assim, governantes e empresários assemelham-se a Savonarola ao ''jogar'' a ciência nacional na fogueira, considerando-a um luxo desnecessário, não visualizando o quão crucial a mesma é e será.         Analogamente, a sociedade deve tomar conhecimento do fato de que a ciência representa um investimento, não um gasto orçamentário. Isso porque ela garante, por exemplo, a qualidade da saúde no país, dado que Instituto Butantan criou a vacina contra a dengue. Dessa forma, é possível compreender o que argumenta Hegel ao dizer que ''o homem é fruto de sua realidade'', ou seja, os cientistas brasileiros trabalham para solucionar os problemas cotidianos no país (pragas e doenças endêmicas, máquinas geologicamente aptas). Portando, é imprescindível o ponto de contato entre ciência e população, assegurando tanto conhecimento e valorização, como engajamento  por aquela.          Em síntese, para a valorização da ciência, o festival Pint Of Science que ocorre no Brasil deve ser expandido, com apoio das universidades e por ação do Estado, uma vez que ele, de maneira descontraída e em linguagem leiga, une ciência e sociedade. Logo, a população conscientizar-se-á do importante valor sócio-econômico da ciência para o país, e poderá exigir a criação de lei federal, que destine parte dos impostos sobre o agronegócio para o Ministério extinto, o qual deverá ser reativado.