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Enviada em: 21/03/2019

A concepção filosófica dos pré-socráticos da Antiguidade grega baseou-se na busca racional sobre a  origem das coisas existentes, embasados nas ciências da natureza. Todavia, a ideologia mitológica do  período resultou no embate do senso comum com o senso crítico, de modo que a sociedade grega  rejeitou, de início, o encorajamento dos naturalistas à autonomia do sujeito pensante. Tal compreensão  se relaciona à realidade científica, na contemporaneidade, conforme a desvalorização da ciência é  promovida pela inércia governamental e a ação da era pós-verdade, associada à importância das  crenças pessoais em detrimento de fatos objetivos.      Deve-se pontuar, antes de tudo, o impacto do âmbito cibernético na construção do raciocínio crítico e  adesão social ao estudo científico. A esse respeito, o conceito da dúvida metódica, exposto pelo filósofo René Descartes, configura-se instrumento metodológico cujo modo para se chegar ao conhecimento  verídico, firme e seguro era por meio da própria dúvida. Nesse viés, observa-se na sociedade atual o  desvio da conduta de Descartes com a descrença do método científico, enfático na observação e  experimentação, e o reconhecimento de crenças e ideologias como saber eficaz. Prova disso, o  movimento antivacinação se abstém da proteção viral de imunização ativa superficial, a vacina, a  medida que alegam o desenvolvimento do autismo e a morte como efeitos da vacinação, o que levou a  OMS (Organização Mundial da Saúde) a categorizar o movimento como um dos dez maiores riscos à  saúde global em 2019.    De outra parte, o atraso governamental em garantir o desenvolvimento da ciência incentiva o  crescimento do anticienticismo. Nesse contexto, o sociólogo Zygmunt Bauman estabeleceu as  "instituições zumbis", entidades que perderam sua função social, mas mantém - a qualquer custo - sua  forma. Analogamente, o Estado brasileiro entra para a caracterização de Bauman, a ponto de  retroceder o desenvolvimento nacional na contenção de gastos em pesquisas científicas e no avanço  tecnológico, manifestado na diferença de pauta do Ministério da Ciência em 2010, cujo investimento foi  de 10 bilhões, decaindo em 2018 para 1,4 bilhões.    Destarte, urge a primordialidade de ações governamentais que visem atenuar a problemática. Para isso, o Ministério da Educação (MEC), deve - pelas instituições de ensino - fomentar o estudo do método científico e as consequências do crescimento da ciência para o desenvolvimento intelectual da sociedade através da disciplina de Biologia, a fim de estabelecer parâmetros da crítica e do senso comum, com palestras pedagógicas que incentivem a ciência desde a educação básica. Com isso, o impacto cibernético será atenuado e o pensamento racional dos pré-socráticos, preservado.