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Enviada em: 28/08/2018

O escritor português Antônio Lobo Antunes, vencedor do prêmio Camões de 2007, afirma em sua tese que um povo, instruído socialmente, nunca será escravo de seus governantes. Analogamente, o Brasil ainda necessita reconhecer a importância da educação para incitar mudanças sociais, carência que deturpa o avanço da nação como um todo. Dessa forma, seja pelo interesse político e governamental em difundir o analfabetismo social, seja pelo currículo escolar negligente, de fato, a cidadania tupiniquim permanece num limbo infindável e preocupante.       Desde a Roma Antiga que os políticos se aproveitam da não participação política comunitária, ofertando “pão e circo” para manipular a população. Nessa perspectiva, a filosofia humanitista do romance “Quincas Borba”, de Machado de Assis, é recorrente, haja vista que o homem comemora aquilo que lhe é vantajoso, ainda que isso implique a ruína de outros. Dessa forma, tem-se o governante, que se privilegia da ignorância da população em detrimento dos seus direitos, com um viés manipulador através de baixos investimentos direcionados à educação, uma vez que para manter-se no poder, é preciso que a população não interfira nas decisões do Legislativo e no trabalho do Executivo.       Por conseguinte, a instituição Escola corrobora para o falho sistema de formação do cidadão quando negligencia, através da incapacitação de professores, a educação filosófica e sociológica, responsável por incitar o questionamento e o engajamento político, formando assim indivíduos incapazes de debater e reivindicar direitos e obrigações. Nessa toada, é lícito referenciar a série “Merlí”, da plataforma Netflix, que retrata os obstáculos que o novo professor de filosofia homônimo enfrenta ao deparar-se com uma turma que nunca teve aulas da disciplina. Assim, observa-se a necessidade do debate de ciências sociais dentro de salas de aulas, elevando o nível inquisidor dos jovens cidadãos para findar esse ciclo de alienação.        Infere-se, pois, que o déficit na educação é alimentado por governantes do Estado e das escolas, formando indivíduos incapazes de promover a mudança social que almejam. Nesse sentido, urge-se que o Poder Judiciário em ação conjunta com o Legislativo vete a MP 746/2016, que torna facultativo o ensino de ciências socais, com o intuito de proporcionar ao povo, através dessas disciplinas, o melhor entendimento de seus direitos e deveres como cidadão, de forma a fazê-lo perceber-se como veículo de transformação da sociedade. Cabe, ainda, as escolas que capacitem seus professores de filosofia e sociologia, através de convenções com palestrantes especialistas na temática, com o objetivo de serem preparados para estimular nos seus alunos a troca de opiniões de questões coletivas. Apenas assim, poder-se-á libertar a nação das correntes da escravidão, tornando o país mais plural e justo.