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Enviada em: 28/06/2019

A série brasileira “Coisa mais linda” retrata o cenário do Rio de Janeiro em 1959. O pensamento social da época evidencia a supremacia de uma lógica racista e discriminatória. Na trama, Adélia Araújo é uma empregada doméstica constantemente humilhada por suas raízes étnicas. A personagem, enquanto mulher negra e mãe solteira - é alvo do comportamento preconceituoso que afeta os grupos minoritários. Sessenta anos depois, é evidente a persistência dos reflexos escravocratas na sociedade brasileira, seja pela falta de representatividade negra, seja pela perpetuidade da falácia do Darwinismo Social.          Em uma primeira instância, observa-se a importância de analisar o problema sob um viés histórico-cultural. O abolicionismo, em termos sociais, não forneceu nenhum subsídio para a sobrevivência do negro. Assim, o desemprego e a miséria foram determinantes para a exclusão dos antigos escravos brasileiros. Observa-se, portanto, que a ausência da representatividade negra - seja na mídia, nos cargos políticos e até mesmo nos ambientes acadêmicos - é fruto de uma herança escravista, que negou-se a esses indivíduos o direito à integração na sociedade. Além disso, a representação do negro associado a estereótipos negativos estimula a formação de um pensamento racista.      Outrossim, a utilização da ciência para fundamentar a hierarquização das etnias fomentou preconceitos que se cristalizaram na consciência do povo brasileiro. A admissão da existência de uma evolução étnica culmina na valorização de uma raça em detrimento de outras. É importante ressaltar que a escravização dos negros foi responsável pela abdicação de crenças primordiais, o que resultou não somente na perda da identidade cultural, como também na depreciação de sua própria origem. Nesse sentido, percebe-se que a instauração de justificativas científicas contribui para o agravamento das práticas racistas como ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial.          Portanto, é mister que o governo tome providências para amenizar o quadro atual. Na busca por uma maior integração e visibilidade da população negra, urge que a Secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) promova mecanismos de equidade representativa nos setores sociais, especialmente na política. É necessário, portanto, criar cotas para candidaturas de negros em partidos políticos a fim de que esse grupo minoritário ganhe voz e, assim, possa assegurar seus direitos. Além disso, cabe ao Ministério da Justiça, a regularização jurídica das políticas de cotas com o intuito de garantir que elas estejam presentes nas demais esferas da sociedade. Assim, o Brasil deixará de conceber mulheres oprimidas como Adélia Araújo e se distanciará cada vez mais da realidade retratada pela série.