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Enviada em: 19/04/2017

Brás Cubas, o defunto-autor de Machado de Assis, diz em suas "Memórias Póstumas" que não teve filhos e não transmitiu a nenhuma criatura o legado da nossa miséria. Talvez hoje ele percebesse acertada sua decisão: a postura de muitos brasileiros frente a ignorância para com as culturas que moldaram o nosso povo é uma das faces mais perversas de uma sociedade em desenvolvimento. Com isso, surge a problemática da negligência ao estudo sobre a construção de uma identidade nacional e o aparecimento de preconceitos culturais que persiste intrinsecamente ligado à realidade do país, seja pela insuficiência de leis, seja pela lenta mudança de mentalidade social.  É indubitável que a questão constitucional e sua aplicação estejam entre as causas do problema. De acordo com o filósofo Aristóteles, a política deve ser utilizada de modo que, por meio da justiça, o equilíbrio seja alcançado na sociedade. De maneira análoga, é possível perceber que, no Brasil, a persistência da intolerância rompe essa harmonia, haja vista que, embora esteja previsto na Constituição a defesa dos direitos das minorias culturais - que foram de suma importância para a formação do Brasil -, ainda são alvos de agressões e prejulgamentos. Outrossim, observa-se que a ausência de um estudo aprofundado sobre a história do Brasil é o principal impulsionador do impasse. Segundo Durkheim, o fato social é a maneira coletiva de agir e de pensar. Ao seguir esse pensamento, observa-se que a ignorância da sociedade se encaixa na teoria do sociólogo, uma vez que em um ambiente escolar, o qual não há incentivo a leitura de textos literários sobre o Brasil - a exemplo do Pedro Vaz de Caminha descrevendo nossas terras e os nativos daqui - e a falta de interesse em estudar a época, não só do Reinado da Família Real e seus legados deixados, mas como todo a estadia portuguesa em terras tupiniquins, acarreta no desinteresse de jovens sobre esses assuntos. Assim, a continuação do pensamento ignorante, transmitido de geração a geração, funciona como base forte dessa forma de desconhecimento, perpetuando o problema no Brasil. Entende-se, portanto, que o preconceito é fruto da ainda fraca eficácia das leis e da incultura como fato social. A fim de atenuar o entrave, cabe as escolas fornecer acesso a diversas gerações étnicas, através de aulas multidisciplinares. Ainda nessa proposta de ação, a Secretaria de Cultura deve dar entrada a uma política para que os estudantes paguem meia não só em cinemas, como também em livros e afins culturais. Por fim, é válido que o setor legislativo revise as leis que protegem culturas de minorias, tornando-as mais punitivas e defensivas. Só assim, será possível minimizar esse problema no Brasil e transformar o Brasil em um país desenvolvido e criar um legado de que Brás Cubas pudesse se orgulhar.