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Enviada em: 13/10/2017

Desde o século XVIII, o pensamento iluminista relaciona liberdade à capacidade de ser, agir, ir e vir sem estar submetido a constrangimentos. Contudo, no Brasil, a persistência das dificuldades de uma acessibilidade universal vai de encontro a esse preceito, uma vez que restringe e desqualifica a vida de muitos, principalmente dos que possuem deficiência ou mobilidade reduzida. Nesse contexto, urge o combate a essa realidade, o qual deve confrontar o mau uso dos recursos públicos e os preconceitos.      Decerto, o conturbado histórico de crescimento das cidades corrobora o problema. Em consonância, na obra “A Urbanização Brasileira”, o geógrafo Milton Santos referencia que essa expansão ocorreu, primordialmente, sob interesses corporativistas devoradores do patrimônio coletivo. Logo, a acessibilidade urbana deixou de receber recursos importantes para o pleno desenvolvimento estrutural e funcional. Nesse viés, cabe apontar que, para ilustrar, a carência de rampas, de semáforos sonoros para os cegos e de tradutores de Libras nas escolas públicas são reflexos, diretos ou indiretos, dessa conjuntura de negligência.       Ademais, um outro agravante é a ausência de um diálogo amplo, envolvendo todos os setores sociais. De fato, parafraseando o sociólogo Jurgen Habermas, a incapacidade de usar uma "razão comunicativa" dificulta a superação de muitas mazelas. Logo, a falta de um debate esclarecedor sobre as deficiências físicas e a mobilidade reduzida condiciona uma visão limitante de soluções, perpetuando a problemática e fortalecendo os preconceitos. Efetivamente, essa realidade é ratificada pelos muitos que acreditam, por exemplo, na incapacidade generalizada dos que possuem algum tipo de limitação, como a cegueira ou a surdez. Nitidamente, um senso comum que agrava a questão e demanda ser superado.       Fica clara, portanto, a necessidade de enfrentar essa situação. Por isso, o Estado precisa priorizar e viabilizar, conforme previsto em lei, a acessibilidade para todos, por meio do uso adequado dos recursos públicos, liberando verbas e incentivos ficais para a construção de rampas, adaptação dos transportes coletivos e demais reformas estruturais urbanas necessárias. Concomitantemente, as escolas precisam auxiliar na superação dos preconceitos, mediante programas pedagógicos, cartilhas e produções culturais que valorizem o pensamento autônomo, a alteridade e as relações interpessoais. Dessa forma, os indivíduos e o diálogo serão fortalecidos e a discriminação aos deficientes físicos debilitada, revigorando a importância e a urgência de uma acessibilidade universal.