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Enviada em: 05/07/2018

"Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, cegos que veem, cegos que, vendo não veem". O excerto romance modernista "Ensaio sobre a cegueira", de José Saramago, crítica metaforicamente a alienação de uma sociedade que, paulatinamente, torna-se invisual. Metáforas a parte, tal obra atemporal não foge da cegueira contemporânea, na qual o tecido social brasileiro não enxerga a importância de valorizar a população indígena. Nessa ótica, devem ser analisadas as principais causas dessa problemática.     A priori, vale ressaltar o desafio de lidar com a questão indígena, no Brasil, ocorre principalmente devido ao desconhecimento generalizado acerca da cultura dos povos nativos. Indubitavelmente, a educação falha quando ignora a história, as lendas e os comportamentos de determinados grupos sociais, pois, diante da ausência desses conteúdos, a imagem do índio se torna cada vez mais caricaturizada, fantasiosa e distante da realidade de suas lutas. Nesse sentido, ainda que a visão proposta pela geração romântica indianista tenha sido superada, na qual o índio é um herói idealizado - como Iracema e Peri - estereótipos ainda persistem e é justamente tal abordagem que nos afasta de um cenário inclusivo para esses povos.     Ademais, convém frisar que a questão está longe de ser resolvida. Isso decore pela aprovação da PEC 215 na Constituição Federal que dão direitos a posse das terras indígenas aos fazendeiros, disseminado ainda mais a cultura e o povo indígena. Analogamente a isso, a sociedade, então, por tender a incorporar as estruturas sociais que são impostas à sua realidade, conforme defendeu o sociólogo Pierre Bourdieu, naturalizou e reproduziu o pensamento da falta de importância com os índios ao logo do tempo como algo cotidiano passível de soluções. Todavia, tudo o que socialmente construído, pode ser culturalmente combatido.    A valorização indígena, portanto, representa um impasse a ser combatido. Dessa forma, cabem as escolas, aliada ao Ministério da Educação, incluírem debates sociais e culturais sobre a valorização indígenas, semanalmente, nos centros educacionais, por meio de uma roda de conversa com historiadores e pessoas indígenas, para que os estudantes interajam e conheçam mais a herança-sociocultural dos nativos brasileiros, com o fito de valorizarem mais esses povos. Além disso, é fundamental a Constituição Federal levantar essa bandeira, em conjunto com o Ministério da Justiça, por meio de uma reabertura na PEC 215 a fim de encontrarem um acordo favorável entre os índios e os fazendeiros que possa disseminar possíveis conflitos por territórios de terras, e a continuação do patrimônio indígena. Dessa maneira, a sociedade possa enxergar novamente.