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Enviada em: 12/10/2018

‘’Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, cegos que veem, cegos que vendo, não veem’’. O excerto do livro ‘’Ensaio sobre a Cegueira’’ de José Saramargo critica uma sociedade invisual. Analogamente, tal obra se assemelha ao cenário contemporâneo, quando corpo social não enxerga a importância de valorizar a população indígena, fruto da negligência governamental e a herança histórico- cultural.    A princípio, o descaso estatal é um dos causadores do problema. Nesse âmbito, Rosseau afirma o papel do Estado em garantias sociais, contudo, a prática deturpa a teoria, embora o tardio direito à terra seja garantido pela Constituição, tal proteção é negada. Outrossim, isso se reflete na inobservância em função da bancada ruralista que retira territórios demarcados para exploração econômica. Destarte, é indispensável a atuação do Poder Público no combate à desvalorização desse público.   Não obstante, o enraizamento histórico perpetua no cenário desafiador. Mormente, isso decorre de preceitos coloniais que contribuíram para falta de reconhecimento cultural e a com a errônea premissa de inferiorização dessa fatia demográfica. Ademais, a sociedade então, por tender incorporar as estruturas sociais nas quais são impostas a sua realidade, conforme o sociólogo Bordieu, naturalizou e reproduziu esse preceito ao longo do tempo.    Torna-se evidente, portanto, que há entraves para resolução do fator. Logo, é necessário que o Poder Executivo agilize as demarcações de terras, tratando como prioridade essa questão, com o intuito que os indivíduos possam vivenciar sua cultura. Paralelamente, por serem formadoras de opiniões, cabe as escolas criarem engajamento pedagógico por meio de representantes de tribos convidados, com debates a fim de despertar senso crítico nos alunos e a importância de valorizar sua cultura e seus costumes. Dessa forma, será possível combater a cegueira dita por Saramargo.