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Enviada em: 16/10/2018

‘’Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, cegos que veem, cegos que vendo, não veem’’. O excerto do livro ‘’Ensaio sobre a Cegueira’’ de José Saramago critica uma sociedade invisual. Analogamente, tal obra se assemelha ao cenário contemporâneo, visto que o corpo social não enxerga a importância de valorizar a população indígena, fruto da negligência governamental e a herança histórico- cultural.    A princípio, o descaso estatal é um dos causadores do problema. Nesse sentido, Rosseau afirma o papel do Estado em garantias sociais, contudo, a prática deturpa a teoria, embora o tardio direito à terra seja garantido pela Constituição, tal proteção é negada. Outrossim, isso se reflete na inobservância em função da bancada ruralista que retira territórios demarcados para exploração econômica. Destarte, é indispensável a atuação do Poder Público no combate à desvalorização desse povo.     Não obstante, o enraizamento histórico perpetua no cenário desafiador. Mormente, isso decorre de preceitos coloniais que contribuíram para a falta de reconhecimento cultural e a errônea premissa de inferiorização dessa fatia demográfica. Ademais, a sociedade então, por tender a incorporar as estruturas sociais nas quais são impostas à sua realidade, conforme o sociólogo Bordieu, naturalizou e reproduziu esse preceito ao longo do tempo. Dessa maneira, é preciso discutir esse fator no âmbito acadêmico.    Torna-se evidente, portanto, que há entraves para resolução do fenômeno. Logo, é necessário que o Poder Executivo estabeleça as demarcações de terras, tratando como prioridade essa questão, com intuito de que os indivíduos possam vivenciar sua cultura. Paralelamente, por serem formadoras de opiniões, cabe às escolas criarem engajamento pedagógico por meio de representantes de tribos convidados, com debates a fim de despertar senso crítico nos alunos e a importância de valorizar seus valores e seus costumes. Dessa forma, será possível combater a cegueira dita por Saramago.