Materiais:
Enviada em: 30/05/2018

De 1948 a 1994, a África do Sul foi administrada pelo regime político conhecido como "apartheid", o qual, por princípio, excluía da vida pública a maioria negra da população. Na campanha contra tal contrassenso, voltou à circulação o lema que sintetiza o ideal democrático: "um homem, um voto". Impressiona saber que, ainda hoje, mais da metade dos habitantes do planeta vive sob modelos que não defendem essa norma. Felizmente, desde 1985, ela prevalece no Brasil. Por aqui, o problema é conscientizar o povo quanto à importância de voto.       Immanuel Kant - filósofo prussiano, um dos mais influentes da era moderna - dizia que o homem não é senão o que a educação faz dele. Com efeito, em um país, como o Brasil, onde é deficiente a educação a que tem acesso a maior parte da população, não se pode esperar que ela seja atentoa àquilo que o professor e crítico literário Harold Bloom chama de voz da civilização. Em um meio assim, tornar-se-ão soberanos os instintos mais primitivos e as necessidades mais básicas. Por consequência, não se terá notícia de uma nova ideia, de um comportamento diferente, nem de um ideal a ser atingido. Por conseguinte, a governantes e governados circunscreverá um meio culturalmente desvalido, do qual não pode surgir a percepção de que votar em alguém é conceder-lhe poderes para, às vezes, decidir o futuro de muitas gerações. A aprovação de um imposto hoje torna devedoras para com o Estado todas as gerações futuras.       Ademais, a falta de cultura  está no código genético da mais fatal tendência humana: a de crer que tudo quanto existe é o aqui e o agora. A perda da visão histórica condena o homem a não olhar para trás nem ao redor e, consequentemente, a ignorar experiências sociais vitoriosas, como a dos países desenvolvidos, onde um político corrupto é exemplarmente punido para que seus erros não se tornem modelos. É a educação que fornece as ferramentas para que se leve a efeito o ensinamento do filósofo Michel Foucault, segundo quem as pessoas devem ter a liberdade de questionar conceitos construídos em outros contextos históricos. Porque houve um tempo em que se acreditou que os negros eram mercadoria e os judeus, descartáveis; ou que os pobres tinham de votar no candidato do "coroné", isso não significa que tenha de ser assim para sempre. "Viver é adaptar-se", dizia Euclides da Cunha.       Portanto, conscientizar o povo quanto à importância do voto é fomentar a cidadania e fazê-lo demanda educação. Governo e formadores de opinião devem empenhar-se em campanhas educativas (peças publicitárias, palestras, seminários etc.) para incutir, já nas crianças, a seriedade do processo democrático, que tem de ser fiscalizado não apenas pela justiça eleitoral, senão também pelo povo. Com isso, o lema "um homem, um voto" um dia será: "Um cidadão, um voto consciente".