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Enviada em: 14/10/2018

Na Grécia Antiga, o vocábulo "idiota" era utilizado para designar o cidadão que, mesmo dotado de poderes políticos, escolhia abster-se de participação. No Brasil contemporâneo, embora nuances políticas dessa natureza tenham sido ressignificadas, as controvérsias e a negligenciação tocantes ao voto são questões ainda latentes. Assim, urge explicitar paradigmas sistemáticos e sociais que abrangem tal tema, a fim de que, explorando-os, seja tangível fortalecer o Estado participativo.    Em primeiro lugar, convém considerar a representação central do voto no regime de poder vigente. De acordo com a visão contratualista de John Locke, os indivíduos abrem mão de suas liberdades plenas para fortificar a estrutura estatal, de modo que o governo possa assegurar seus direitos inalienáveis. Com efeito, no limiar democrático, é o sufrágio a máxima representação da autoridade popular, contrapeso que garante o direito à voz e à reivindicação das prerrogativas presentes em tal contrato civil. Nessa perspectiva, mais que obrigatoriedade, o processo eleitoral é pilar contra antigos autoritarismos, além de freio às opressões que cerceiam a população.   Contudo, é importante destacar o hodierno contexto de desvalorização da ferramenta legal em questão. Ao longo da experiência civil brasileira, grande parte da população tem mostrado pouco pesquisar e conhecer sobre o destino de seu voto. Ainda muito influenciado, remontando às raízes coronelistas, pela idealização de arquétipos heroicos que poderiam ser salvadores do país, o sufrágio segue intrinsecamente ligado à alienação. Nesse ínterim, a subvalorização de tamanho poder condiciona não apenas o enfraquecimento da noção de sufrágio, mas também a invisibilização social do votante, paradoxalmente consentida por ele próprio.   Torna-se evidente, portanto, a necessidade de discutir com maior profundidade a posição de destaque ocupada pelo voto na atualidade. Faz-se imperioso que as escolas e universidades, com apoio do Ministério da Educação, trabalhem no sentido de informar e despertar seus discentes em relação à temática. Para tanto, cabe instituir planejamentos pedagógicos concretos que possibilitem, no ensino regular, aprofundamentos teóricos sobre o regimento e funcionamento do Estado, em suas múltiplas representações e instâncias. Ainda, especialistas da área sociológica e, em níveis superiores de currículo, podem usar de tais esclarecimentos basais para, complementando-os na seara da Ciência Política, destacar a vitalidade do voto no processo democrático. Dessarte, pela dissipação do entendimento abstrato, será possível retomar o papel primordial do engajamento, elemento central da política já na Antiguidade Clássica.