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Enviada em: 22/04/2019

Na insigne mitologia grega, Sísifo é condenado por Zeus a rolar uma enorme pedra, todos os dias, morro acima, mas, ao chegar ao topo, ela sempre retorna à base. À luz de tal eloquência e frente ao panorama brasileiro de histórica marginalização e precária condição de vida das comunidades quilombolas na sociedade, nota-se a submissão desses grupos ao jugo da inação das esferas públicas. Desse modo, a necessidade de reversão do persistente infortúnio exige vigorosa mobilização social.   À vista disso, os inúmeros efeitos negativos da pejorativa reação brasileira aos quilombos remanescentes violam a integridade do corpo coletivo. Dentro da perspectiva abordada, é pertinente a inserção do contexto social do Brasil Colônia, no qual o impacto sociocultural dos mocambos foi tão forte que estimulou o extermínio genético e cultural desses agrupamentos pelas autoridades da época. Hodiernamente, a realidade nacional em sua totalidade pouco diverge disso ao continuar submetendo incontáveis famílias do referido conjunto étnico a condições de preconceito e segregação socioespacial  tão nítidos quanto as diferenças consolidadas pela retrógrada estrutura de casa grande e senzala. Destarte, a problemática comprova-se pela recorrência de casos semelhantes ao desamparo médico, educacional e material das famílias quilombolas desalocadas em função da base espacial de Alcântaras, no Maranhão, e pela falta de incentivo a atividades tradicionais de enorme significância, como a atuação das quebradeiras de coco.   Outrossim, a omissão das esferas públicas ainda é um grande impasse à desestruturação do anômico desrespeito aos mocambos remanescentes no Brasil contemporâneo. Nessa ótica, insere-se o direito fundamental à propriedade e a valorização cultural das comunidades quilombolas, constitucionalmente previsto na Carta Cidadã de 1988. No entanto, a não efetivação das declaradas garantias configura um cenário caótico para a premissa supracitada. Dessa forma, o conceito de anomia, descrito por Durkheim como disfunção da superestrutura social, pode ser observada na frágil importância conferida às causas referentes ao grupo étnico em questão.   Portanto, diante dos aspectos conflitantes relativos à importância dos quilombos no Brasil contemporâneo, é mister a mobilização do Governo. Para tanto, cabe ao Ministério da Cultura e ao Incra, elaborar um plano de ações nacionais voltado para o respeito aos valores e direitos das comunidades em debate, pois ser atuante nas questões sociais é garantir o desenvolvimento pátrio. Por fim, tal medida deve efetivar-se por meio do incentivo material e moral à cultura e o devido reconhecimento das posses de terra das famílias quilombolas, com o fito de amenizar a distópica realidade dos sísifos brasileiros.