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Enviada em: 27/04/2019

No período escravocrata do Brasil, os quilombos eram caracterizados como locais em que negros fugidos se estabeleciam, vivendo em conjunto com base no modo cultural de origem, o africano. Mais de 131 anos após a abolição da escravidão, segundo a Fundação Cultural Palmares, cerca de 3 mil mocambos remanescentes ainda abrigam afrodescendentes nas mais variadas áreas do país. No entanto, é intensamente insatisfatório o reconhecimento governamental e social da importância dessas comunidades contemporâneas. Logo, urgem ações engajadas dos agentes adequados, com o escopo de promover uma mudança desse panorama.       Efetivamente, a negligência política é notória nessa conjuntura, uma vez que, embora a Constituição de 1988, no decreto N° 4887, defina como direito a identificação e a titulação de terras ocupadas por quilombolas, verifica-se que isso não é efetivado com eficiência pelo Governo. Além disso, percebe-se que são escassos projetos públicos que ofereçam suporte para os mocambos, principalmente no sentido de infraestrutura de saúde e de educação, bem como medidas que promovam a sustentabilidade desses ambientes. Essa circunstância, consequentemente, inviabiliza a preservação da autenticidade dessa população e a manutenção desses espaços seculares, símbolos da resistência negra e a da memória cultural da nação.       Ademais, ressalta-se que a desvalorização dos mocambos ocorre também em instituições de ensino. Isso é observado, sobretudo, na medida em que não são abordados com ênfase nas atividades educacionais, principalmente em aulas de História e Artes, figuras emblemáticas como Zumbi e Dandara, líderes do famoso Quilombo dos Palmares no século XVI, e manifestações características do povo quilombola, a exemplo da capoeira e do samba de coco. Essa situação tem reflexos negativos na formação identitária tanto dos afrodescendentes, quanto dos demais cidadãos, tendo em vista que uma parcela da herança cultural brasileira é suprimida, além de evidenciar um nítido preconceito para com esses agrupamentos e seus habitantes.       Destarte, é impreterível que o Estado, importante órgão articulador de ações públicas, amplie as políticas voltadas para as comunidades quilombolas contemporâneas, por meio do redirecionamento de verbas para preservação desses espaços e da otimização da demarcação de terras, a fim de cumprir as bases constitucionais e de ratificar a relevância desses grupos para a construção identitária do país. Concomitantemente, é imprescindível que as escolas abordem com mais periodicidade temas relacionados ao âmbito da cultura negra e dos mocambos, com fito de inserir e de manter essa população e seus respectivos costumes mais próximos da sociedade em geral.